Os trechos publicados abaixo fazem parte do material de divulgação e mobilização do 15º Grito dos Excluídos, cujo lema, em 2009, é “A força da transformação está na organização popular”. O Grito foi lançado em 1995, numa iniciativa da CNNB (leia-se Igreja Católica progressista) junto com os movimentos sociais, e é sempre realizado no 07 de setembro, nos mesmos horários e locais das comemorações do chamado Dia da Independência. Segundo os organizadores, essa é uma forma de chamar a atenção para a longa caminhada que o povo brasileiro tem pela frente, antes de poder se considerar realmente independente e soberano.
O texto e o tema deste ano demonstram que o Grito dos Excluídos não é um evento isolado, circunstancial, que ocorreria apenas por inércia, mas que é paciente e lucidamente construído no interior da chamada Igreja Progressista e junto com os movimentos sociais e as comunidades. Ou seja, mobilizações como essa mostram que amplos setores da Igreja Católica ainda estão comprometidos com a transformação das estruturas sociais e políticas e com as contradições deste mundo terreno, e não apenas com a evolução espiritual de indivíduos e sociedades.
A CNBB acertou em cheio ao eleger para este ano o tema da organização popular. Pois, na verdade, já passou a hora de se promover no país uma reorganização ou um resgate do movimento popular.
Sabemos que o movimento está cada dia mais anestesiado e esvaziado, e muito dessa apatia está na opção, ou necessidade tática, de ter que apoiar (ou ao menos não ameaçar) a estabilidade de um governo que tem claramente um projeto, ou pelo menos uma orientação, democrático-popular, mas que optou por se sustentar cada vez mais nos poderes instituídos, formais ou informais (Congresso, Judiciário, empresários etc) ao invés de se apoiar preferencialmente nas organizações populares e nos movimentos sociais.
Esse afastamento de um governo popular, em relação aos movimentos que o instituíram, torna difícil para esse mesmo governo implementar um projeto mais ousado, criativo e transformador, já que sempre encontrará resistências daquelas forças institucionais com os quais o governo se aliou - e isso independente do grau de corrupção, de desumanidade ou de descompromisso com a vida plena por parte dessas forças. Além disso, perde-se a oportunidade histórica de oferecer às camadas populares a possibilidade aprender a governar, de se co-responsabilizar pelos destinos de seu país, com todos os erros e acertos que um tal aprendizado implicaria.
E se as organizações e as lideranças não são convocadas para participar e se responsabilizar efetivamente pelo governo popular, e se não há uma renovação do movimento através da mobilização e sedução (promovida também pelo governo popular) de novas pessoas até então desligadas do movimento, a conseqüência é aquela apatia, esvaziamento e desorientação do movimento apontada no início. Desorientação que poderá até mesmo repercutir contra o próprio governo, quando se tornarem insustentáveis as pressões golpistas que costumam ser o último recurso de pessoas e forças sociais que nunca se conformam quando um povo começa e despertar e a aprender a dar um novo sentido, uma nova condução às instituições e poderes de Estado.
É nesse contexto que iniciativas como o Grito dos Excluídos são um sopro de alento para aqueles que crêem numa ação política mais espontânea, corajosa e calorosa.
Pois com essa institucionalização e engessamento dos movimentos sociais fica evidente que, neste momento histórico do Brasil, tem falhado o tripé Partido-Governo-Movimentos Sociais. Sabe-se que não tem havido a necessária autonomia entre do PT e dos Movimentos Sociais em relação ao Governo Popular, como também não tem havido a necessária integração entre o PT e os movimentos sociais.
Neste sentido, mais que benvindo é fundamental esse quarto ‘pé’, não somente para ajudar a sustentar o tripé da transformação, mas também para renovar, arejar, animar (no sentido de dar ‘anima’, alma) às pessoas e instâncias que promovem a transformação - e para questioná-las e enfrentá-las quando for o caso.
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