17/10/2010

tiririca: quem são os palhaços?

a batalha de 2010 (10)

Duas observações acerca do texto de Sérgio Malbergier "Deixem o palhaço legislar" -  extraído da Folha online  e que vai abaixo.

A primeira é uma pergunta: esse artigo seria mais um sinal daquela rebelião, que sugeri na apresentação do texto de Maria Rita Khel, a saber, uma improvável mas não impossível rebelião dos jornalistas submissos e analistas malabaristas contra os seus inflexíveis patrões da mídia?  

A segunda observação é a de que finalmente temos uma abordagem diferente, e corajosa, do polêmico fenômeno da eleição de Tiririca. o mais deputado mais votado do país. Malberguer tem a coragem de nadar contra a corrente e colocar em questão

A minha opinião sobre o caso é a de uma solução conciliatória: já que Tiririca foi sagrado e consagrado nas urnas que se dê a ele a oportunidade aprender a ler e escrever.

Que se pare com essa hipocrisia de tentar nos passar  a imagem de que um Parlamento, somente por abrigar representantes letrados ou razoavelmente escolarizados, seria automaticamente um Parlamento competente e compromissado com a cidadania e e transparência.

E, na outra ponta, que se pare com essa arrogância de que somente cidadãos  razoavelmente escolarizados é que poderiam contribuir para o Legislativo, ou ficar àrente do Executivo, com competência, seriedade e sensibilidade social. Ora, o episódio do torneiro mecânico do Nordeste versus o "princípe" do mundo acadêmico de São Paulo mostrou muito bem que a questão não pode ser reduzida à ausência ou abundância de escolaridade e conhecimentos formais.

Se o Ministério Pùblico e o Congresso querem se apresentar como institruições sérias, democráticas e cidadãs, o mínimo que deveriam proporcionar - ao mais votado dos deputados e supostamente analfabeto - seriam condições para que o mesmo, além de suprir o seu eventual analfabetismo, também fosse capaz de adquirir, num tempo razoável, a formação técnica e política necessária para exercer o seu mandato.

Assim, o MP e o Congresso estariam acolhendo condignamente aquele que, bem ou mal,  lhes foi enviado pelos eleitores. O Ministério Público poderia até mesmo criar mecanismos de avaliação do desempenho dos deputados que precisassem passar por essa espécie de 'curso de formação'.

Mas aí haveria um problema:  para sermos coerentes e justos, esses mecanismos de avaliação deveriam julgar todos os deputados do Congresso, e não apenas os supostamente incapacitados, julgar e eventualmente cassar o mandato, no caso de um avaliação muito aquém dos requisitos exigidos: a ética, o compromisso com a coisa pública, a competência e a dedicação ao mandato,  a humildade própria de um representante do povo, a sensibilidade para com os dramas sociais, e por aí vai.

E, nesse caso, certamente que o índice de reprovação e quiçá de cassação seria extremamente alto, independentemente do nível de es.colaridade...

Por tudo isso, é preciso dizer como Malbergue: deixem o palhaço trabalhar, não se pode antecipadamente acusá-lo, como se pela sua condição humilde e limitada (fruto da opressiva história que as oligarquais têm inposto a este país) ele fosse as mesmas palhaçadas e safadezas que muitos dos atuais ocupantes do Congresso - na verdade, ele  pode até surpreeender positivamente,memso porque vai ser mais cobrado ou vigiado do que os outros.

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Um outro aspecto, que já abordei no texto  a cidade de minas e de niemeyer.
Todo esse burburinho em torno da escolaridade de um candidato têm como pano de fundo a cultura da misficação das instituições burguesas e capitalistas.

Essas instituições precisam passar  a imagem de seriedade, de competência, de neutralidade e principalmente de racionalidade na adminsitração do trabalho e da convivência humanas.
É preciso   que o capitalismo e suas instituições políticas se apresentem como insubstituíveis, como o  resultado de um longo processo de evolução: a superação ou a mera contestação do capitalismo e das instituições da democracia formal poderiam nos levar para o perigo da anarquia, do conflito, do desperdicio, da irracioanlidade administrativa etc.

Então, nada como exibir cidades futuristas como sede e centro de uma inexistente competência e transparência adminsitrativa.
E nada como exigir que os 'representantes do povo'  nos parlamentos burgueses-capitalistas transmitam à massa domesticada uma imagem de também de competência, de lucidez e de capacitação técnica.

Como se diz nestes tempos de plástico: imagem é tudo.
Mas oxalá Tiririca não se deixe domesticar e prossiga escacancarando um pouco  das hipocrisisas e dissimulaçoes, contradições  e palhaçadas da democracia formal. Como diz Malbergier, vai ser divertido vê-lo excutando suas típicas dancinhas em frente ao microfone do Congresso Nacional.

Seria impagável, com certeza.    

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