Os três textos abaixo (a campanha da vizinhança da SQN 210, a velha e boa militância e derrotar serra nas urnas e depois dilma nas ruas) lembram e reforçam um argumento que desenvolvi no texto o enfrentamento e a mobilização popular, qual seja, a necessidade de um governo - que quer realmente ser democrático e popular - priorizar a formação política e a mobilização de amplos setores das camadas populares, no próprio exercício do mandato e não apenas durante o processo eleitoral.
Nem de longe essa formação e essa mobilização foram prioridades nos dois governos do PT, apesar das louváveis iniciativas das Conferências Nacionais. Com certeza, isso explica muito do fato de não ter havido uma vitória de Dilma logo no primeiro turno, apesar dos avassaladores 80% de aprovação de Lula.
Ficou provado que, na dura disputa política contra as 'elites' deste país, não se deve confiar apenas no carisma de qualquer que seja a liderança política, seja ela de esquerda ou de direita. Ainda bem. Lá no texto eu já apontava:
"Pode ser que o vasto contingente social, que obteve consideráveis benefícios econômicos e sociais nos dois governos Lula, esqueça-se do partido e das lideranças que permitiram essas conquistas econômicas e sociais.
E então será presa fácil para uma direita falsamente renovada, que no momento oportuno poderá ressurgir com seus apelos moralistas, conservadores, e que certamente saberá explorar os preconceitos que as camadas populares tem contra seus próprios líderes, contra sua própria história.".
Emfim, não adianta formar apenas consumidores, não adianta dar apenas dignidade econômica ou material, é preciso proporcionar a oportunidade para que as pessoas tenham também dignidade política, para que tenham a livre opção de alargar os seus horizontes políticos e ampliar o seu sentido de existir neste mundo.
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O texto-manifesto divulgado pelo PCB, derrotar serra nas urnas e depois dilma nas ruas, explica um pouco a conjuntura e os mecanismos pelos quais Lula optou por cooptar e neutralizar os movimentos populares ao invés de fortalecê-los, incentivar-lhes uma maior autonomia e governar com eles.
O manifesto já chama a atenção pelo próprio título, ao lembrar que a trasnformação popular de um país se faz de fato é nas ruas, praças, bairros, comunidades, fábricas e campos.
Também é interessante pelo fato de apontar já para o futuro, o pós-eleição, para a necessidade de superação dialético do PT enquanto condutor do processo de transformação popular no Brasil. Ressalvando que não se afirma aqui, e nem se afirma no Manifesto, que o PCB seria esse 'substituto' do PT.
Mesmo porque, como já expus no texto o grito que ainda se faz ouvir, essa nova força política tanto pode ser um partido, uma frente ou um movimento, quanto pode ser o próprio PT, oportunamnete resgatado do projeto aliancista e reformista que tem permitido a sua autodenominada revolução democrática , o PT que no momento certo promoveria sua própria superação dialética, rompendo com as opções e limitações atuais.
Com relação a isso, o que se sabe é que ainda existe - e sempre existiu ao longo desses 08 anos de governo Lula - uma disputa interna pelos rumos do Partido, se um PT mais socialista e popular ou mais reformista, institucional.
Será que o PT conseguirá escapar do destino de grandes e revolucionários partidos de esquerda do mundo que, depois, se transformaram em partidos reformistas? A ver.
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Os textos de Silvino Heck, A velha e boa militância e de Gilney Viana, A campanha da vizinhança da SQN 210, são interessantes exatamente por tratarem daquilo que faltou no primeiro turno: militantes atuando, emoção, a campanha realmente nas ruas.
A registrar: as diferenças que Heck aponta entre militantes e militontos, feitas por Frei Betto, e que talvez sejam um tanto ingênuas para os dias de hoje. Afinal, com a chegada do PT ao governo federal e a diversos governos municipais e estaduais, de ingênuos ou ‘tontos’ muitos militantes não têm nada. Pelo contrário, são bastante lúcidos e objetivos nas suas ações e análises, muitas vezes colocando projetos e necessidades pessoais à frente de um autêntico projeto popular e coletivo.
Nada de novo nas observações acima, claro.
Afinal, o que esperar de uma militância aguerrida, abnegada, que passou longos anso de sacrifício em nome do partido e da luta popular, e que de uma hora para outra passa a conviver com a segurança, a sedução e o poder proporcionado por cargos, viagens, salários, contatos importantes etc? Todos somos vulneráveis a essas seduções e promessas de segurança e de um futuro menos incerto.
Isso não deveria acontecer, claro, mas não podemos ver essa mudança de postura de muitos companheiros sob uma ótica moralista. São apenas produto das circusntâncias, militantes idealistas, abnegados e lúcidos que são neutralizados, ‘reciclados’ (para usar uma palavra da moda) pela engrenagem institucional e tecnocrática daquilo que o PT deveria estar a combater, mas com o qual teve, ou quis, se aliar em nome da acumulação de forças para uma futura transformação das estruturas e ruptura com essa mesma ordem. O que resta a fazer é procurar antídotos para esses ‘doces venenos’ do poder burocrático-institucional.
A questão é saber se esse antídotos estão nos gabinetes e instituições ou se terão que ‘produzidos’ de novo nas ruas, praças, campos e cidades, como sugere o Manifesto do PCB.
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Por fim, esses dois textos sugerem uma perigosa inépcia da direção partidária para mobilizar ou articular a sua militância. É como se a direção do partido tivesse perdido o hábito de conviver com os militantes, de ouvir a sua voz.
Será que de tanto subestimar a importância da formação política, da moblização e da participação popular durante o exercício do mandato, o PT passa agora a ter dificuldade, ou inspiração, ou humildade, até mesmo para conviver com a sua própria e ainda aguerrida militância durante um decisivo processo eleitoral?
Parece que cabe repetir a pergunta acima: será que o PT conseguirá escapar do destino de grandes e revolucionários partidos de esquerda do mundo que, depois, se transformaram em partidos reformistas? A ver.
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