08/09/2021

vitória, imagens - II - a Catedral

 

Na postagem anterior, me propus a divulgar imagens das igrejas de Vitória, em memória do Dia da Cidade e de sua Padroeira. E acabei não postando nenhuma imagem exatamente da Catedral, a mais conhecida e a mais impactante das igrejas da capital. Por óbvio que isso não faria sentido, tanto que reservei aqui vai uma postagem especial, com muitas  e variadas fotos da Catedral. 


na dúvida entre começar pelo interior ou pela fachada, optei pelo primeiro. Fica mais solene, reverente. Além do que, a Catedral tem um dos oratórios (espaço dedicado ao Santíssimo) que mais me fascinam. 
Embora não seja católico praticante, conheço igrejas e igrejas de Minas Gerais e de alguns outros estados. E em nenhuma delas (mesmo nas pujantes-douradas de Ouro Preto) encontrei um espaço do Santíssimo que transmitisse tanta serenidade e densidade, algo não apenas transcendente, mas verdadeiramente cósmico e mesmo metafísico. 


Não foram poucas as vezes em, que nesse espaço ,tive a fortíssima impressão de que estava de fato caminhando, vagando, respirando, testemunhando junto com o Cosmos, o Ser (ou a Criação, para quem preferir) no exato instante em que ali estava, no exatos minutos em que contemplava (ou comungava com) o revestimento circular, dourado e cravado de delicadas arabescos, que, apesar de ficar atrás e do lado de fora, parece que ele é que  guarda o Santíssimo. 

Nunca tentei nem quis explicar isso para mim mesmo. Prefiro que continue pulsando como um misterioso poema ainda não escrito.



Agora, sim, a fachada, na clássica imagem que as pessoas fotografam. Bela e imponente, em sua brancura (dá licença,  identitários, não vou me policiar, não) recortada contra o azulíssimo céu, que as suas góticas agulhas buscam, em reverência ou ânsia - sabe-se uma das realidades que a arquitetura gótica quer marcar é exatamente essa tensão entre céu e terra, a tensão entre a impotência, a ânsia e a reverência de nossa vida terrena para com uma suposta vida celestial, num perfeito, de formas e perenes (Platão etc etc)

                       

De minha parte, não mais me sinto impotente anseio m suposto mundo celestial, a ser alcançado após a morte. apenas reverencio, celebro, como um poema, essa tensão entre o explicado e o inexplicado, o longínquo e o aqui, enfim tudo isso que nos é ofertado pelo Ser, pelo Mistério, e que me é lembrado toda vez que miro ou navego, com o devido cuidado e silêncio interior, esse conjunto arquitetônico da Catedral.
                               

              

as  laterais da Catedral: acima, quem vai pela Dionísio Rosendo, abaixo, do lado de quem chega pela Gama Rosa



Gosto tanto de fotografar a Catedral, que até mesmo nos dias nublados a sua massa arrojada, silenciosa e poética me atrai. Embaixo algumas imagens. Ela se torna ao mesmo tempo mais terrena, mais humana, , ao mesmo tempo, mais cósmica, como se remetesse ao inícios do tempos, ou à Origem.








E, aqui, um registro histórico, singular, e quase exótico. Era época da reforma da Catedral, e os pedreiros tiveram que colocar a devida proteção par os pedestres exigidas nesses casos. E, então, o que era apenas exigência técnica, para mim adquiriu evidentemente contornos poéticos, inesperados.
A Catedral apareceu-me como uma verdadeira noiva , vestida para o sacramento de um  casamento a se realizar em breve. 
                                                     
Para um católico, certamente a simbologia remeteria ao casamento da santa madre Igreja com o Cristo, ou a algo menos transcendente, os votos de alguma jovem freira, por exemplo, a sua entrega a uma vida devotada aos ensinamentos do Cristo - enfim,  a famosa expressão "Noiva de Cristo" aqui se aplicaria de uma forma ou de outra.
Mas eu preferi ver na imagem o símbolo de algo ainda mais transcendente, ou profético. Vi o casamento da Igreja Católica com a Revolução que se aproxima, para provocar de vez a superação do Capitalismo, outrora revolucionário e necessário, atualmente em estado obsoleto  e terminal - mas  estúpido e cruel, enquanto agoniza.

                                 
Pois, que me desculpem os companheiros trotskistas, a Revolução, além de internacionalista, melhor, planetária, terá que ser também transcendente, terá que ter algum componente metafísico, ou místico. Somente a rigorosa Ciência Marxista (dos quais os trotskistas são os autênticos guardiães), por mais rigorosa, lúcida e combativa que se apresente no momento adequado - quando formos convocados para ocupar as ruas e praças do mundo inteiro, - somente essa ciência e esse combate não serão suficientes, para dar conta da gigantesca e redentora tarefa.
Não será tarefa exclusiva da vanguarda revolucionária. Ou melhor, a vanguarda revolucionária trotskista terá que encontrar formas de convocar muitas e muitas outras instâncias, para dar conta da gigantesca tarefa. 
E terá que aceitar e conviver com esse componente místico e transcendental, que será um ponto de sustentação fundamental para a Revolução. Mística e transcendência que virão com a JUVENTUDE, OS ARTISTAS, A RELIGOSIDADE, entre outras instâncias (reparem, companheiros trotskistas, disse religiosidade, e não apenas religião ou igrejas). E, certamente, a "noiva do Cristo" será convocada e, ao mesmo tempo, quererá dar sua contribuição transcendental para a  Revolução (mas isso o que me a Igreja Católica em seu todo,  e não apenas na sua ala progressista, a Igreja das CEBs, da Teologia da Libertação).
Enfim, foi  o que se me insinuou aos poucos, a cada vez que eu via a Catedral Vestida de Noiva.                                                                                     

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