25/10/2011

denúncia: mais um assassinato na amazônia

Continuam os assasinatos, a eliminação pura e simples de trabalhadores e militantes que, ao mesmo tempo em que lutam por mais dignidade em suas vidas,  também tentam frear a irracionalidade da ocupação da Amazônia, a cegueira do desenvolvimento a qualquer, como se esses avanços econômicos e técnicos fossem sempre urgentes, inadiáveis, insubstituíveis.

Os textos abaixo estão sendo divulgados pelo Bispo de Itaituba, PA, e pela Comissão Pastoral da Terra.  Para além da triste denúncia de mais uma vida aniquilada, mostram também um pouco do complexo jogo de forças,  da tensão cotidiana de pessoas e órgãos envolvidos nesse processo  desenvolvimentista, de um lado,  e na sua  corajosa contestação, de outro.  

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Denunciamos o assassinato covarde de mais um defensor da natureza na Amazônia.

Sábado foi assassinado o líder comunitário João Chupel Primo em Miritutuba, município de Itaituba, PA. Conheci o João foi em sua comunidade que realizei as primeiras crismas como bispo de Itaituba.

Eu o tinha encarregado de fundar uma nova comunidade. Justamente no dia da crisma em junho deste ano, ele deixou de ser o coordenador da Comunidade Nossa Senhora de Nazaré de Miritituba para poder se dedicar à fundação da nova comunidade.

Ele vinha fazendo denúncias sobre grilos de terras e extração ilegal de madeira (veja a nota). Por isso foi assassinado brutalmente com um tiro na testa sábado passado.
Quando os defensores da natureza e da legalidade vão deixar de serem mortos? Quando o Governo Federal colocará pra valer a Polícia Federal para agir no Pará?
Fraternalmente

Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm.
Bispo da Prelazia de Itaituba, Pará - Brasil

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Coordenador da Comunidade de Miritituba/ Itaituba - PA é assassinado

Sábado, dia 22 por volta das 14 horas, foi assassinado com um tiro na cabeça João Chupel Primo, com 55 anos. Ele trabalhava numa oficina mecânica onde o crime ocorreu, ao lado de seu escritório.

João denunciava a grilagem de terras e extração ilegal de madeira, feitas por um consorcio criminoso. Ele tem vários Boletins de ocorrências de ameaças de morte na Policia local. E fez várias denuncias ao ICMBIO e a Policia Federal, que iniciaram uma operação na região.

A madeira é retirada da Flona Trairão, e da Reserva do Riozinho do Anfrizio. Onde as portas de entrada para essa região, que faz parte do mosaico da Terra do Meio, se dá pela BR 163 Vicinal do Brabo cortada até o Areia; entrando pelo Areia (Trairão) cortada até Uruará. Pela BR 230: vicinal do Km 80. Vicinal do km 95. Vicinal do 115. A operação do ICMBIO, que recebeu apoio da Policia Federal, Guarda Nacional e Exercito não teve muito êxito, pois toda noite ainda saem 15 a 20 caminhões de madeira.

Dizem que não foi dado continuidade na operação por medida de segurança. Um soldado do Exército trocou tiro com pessoas que cuidavam da picada quilômetros adentro da mata e ficou perdido 5 dias no mato. O Exercito retirou o apoio. A Policia Militar também não quis dar apoio.

A responsabilidade de mais uma vida ceifada na Amazonia, recai sobre o atual governo, o IBAMA/ICMBIO, Policia Federal, que não deram continuidade a operação iniciada para coibir essa prática de morte, tanto da vida da Floresta como de pessoas humanas.

Desde 2005 até os dias atuais, já foram assassinadas mais de 20 pessoas nessa região.
Quantas vidas humanas e lideranças ainda tombarão???

Itaituba, 24 de Outubro de 2011
Comissaõ pastoral da Terra, CPT – BR163
Prelazia de Itaituba

24/10/2011

conselho

sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça

eugénio de andrade - portugal

23/10/2011

aos que vão nascer

Nestes tempos de perplexidades e incertezas, mas também de vibrante rebeldia, bastante apropriada a publicação deste também vibrante poema de Brecht, dramaturgo e poeta alemão (1898-1956)e militante da revolução dos povos. Na verdade, é apenas a segunda parte do poema, que é dividido em três seções.

Oportunamente publicarei as outras duas. Por ora, essas chamejantes palavras a lembrar que a atual Rebelião dos Povos tem firmes raízes na história,  a lembrar que a história dos povos é feita de resistência e de lutas - por mais que os mecanismos de dominação cultural queiram apagar, neutralziar ou diminuir essa memória de lutas e de crenças dos homens na transformação e na evolução  das formas de convívio entre eles.
A atual Rebelião é mais um passo na direção dessa transformação e dessa evolução, e o poema de Brecht vem lembrar-nos  outros passos dados nessa longa e necessária caminhada.  

aos que vão nascer - parte II
bertolt brecht

Cheguei às cidades em tempo de desordem
quando a fome reinava.
Entre os homens cheguei em tempo de revolta
e rebelei-me com eles.

Assim se foi o tempo
que sobre a terra me foi dado.

Minha comida engoli-a entre os batalhas
ao dormir deitei-me entre matadores
cuidei do amor com descaso
e a natureza eu olhava sem paciência.

Assim se foi o tempo
que sobre a terra me foi dado.

As ruas levavam ao pântano do meu tempo.
As palavras entregavam-me aos carrascos.
Eu tinha tão pouco. Mas os governantes
ficavam mais confiantes sem mim, eu esperava.

Assim se foi o tempo
que sobre a terra me foi dado.

Os fortes eram poucos. A meta
ficava bem longe
claramente visível, mas também para mim
tão difícil de alcançar.

Assim se foi o tempo
que sobre a terra me foi dado.

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Aqui, uma outra versão do poema, para quem gosta de comparações entre traduções diferentes:

À cidade cheguei em tempo de desordem
Quando reinava a fome.
Entre os homens cheguei em tempo de tumulto
E me revoltei junto com eles.

Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

A comida comi entre as batalhas
Deitei-me para dormir entre os assassinos
Do amor cuidei displicente
E impaciente contemplei a natureza.

Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.
As ruas de meu tempo conduziam ao pântano.
A linguagem denunciou-me ao carrasco.
Eu pouco podia fazer. Mas os que estavam por cima
Estariam melhor sem mim, disso tive esperança.

Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

As forças eram mínimas. A meta
Estava bem distante.
Era bem visível, embora para mim
Quase inatingível.

Assim passou o tempo
Que nesta terra me foi dado.

(Tradução de Paulo César de Souza, São Paulo: Editora 34, 2000)

a rebelião dos povos se firma no brasil

A Rebelião dos Povos continua a deitar por terra afirmações e análises dos chamados 'especalistas' em política, sociologia, comportamento, etc etc. O consenso ainda é o de que esse movimento ficará restrito a sociedades e países envolvidos masi fortemente pela crise, tais como europeus e  americanos, ou com problemas de ordem econômica e de opressão política, caso dos africanos, árabes e de povos do Oriente Médio. Pois a Rebelião chegou ao Brasil, que está muito longe de ser afetado pela crise tanto quanto europeus e americanos (pelo menos por enquanto), nem está sob a opressão de uma ditadura.  Leia abaixo, num texto trasncrito de Carta Maior 

Indignados de São Paulo recebem apoio dos moradores de rua e ameaças da polícia 

O 15 de outubro passou, mas os paulistanos que realizaram manifestações em sintonia com outros locais do mundo permanecem acampados no vale do Anhangabaú. Com uma média de 70 pessoas dormindo todas as noites e 200 presentes durante o dia, o acampamento aperfeiçoa sua estrutura, recebe apoios e amadurece politicamente, enquanto o poder público responde com ameaças.

Castigado nos primeiros dias pela chuva desproporcional na cidade de São Paulo, o movimento teve dificuldades de romper a barreira midiática para amplificar o seu recado à população. Mesmo assim, conseguiu marcar presença neste protesto realizado em mais de 900 cidades e 80 países.

Os dias de frio foram contrastados pela calorosa recepção dos moradores de rua. Não foi preciso grandes explicações sobre as motivações do acampamento para que um representante do Movimento Nacional da População de Rua pedisse a palavra em uma das assembleias para dar o seu apoio. Aproveitou para explicar que os moradores de rua da região estão cientes dos novos vizinhos, mas temem acompanhá-los mais de perto nas noites por medo de represálias.

A Guarda Civil Metropolitana (GCM), por motivos opostos, também se faz presente, com pelo menos duas viaturas a cada madrugada. Na manhã da terça-feira, os policiais fizeram a primeira incursão sobre o território ocupado para confiscar as faixas com as mensagens políticas, o banheiro seco e demais materiais que estavam nas margens do local utilizado como dormitório. Não foram embora sem antes ameaçar voltar com mais truculência. E voltaram, acompanhados da Polícia Militar, na tarde de quarta-feira. Apesar da tensão, não ocorreram prisões nem despejo.
A ocupação foi considerada irregular com a justificativa de “uso indevido do solo”. A juíza Simone Viegas de Moraes Leme indeferiu a liminar do mandado de segurança do movimento, que tentava garantir a instalação das barracas e de materiais estruturais do acampamento. Na interpretação da advogada voluntária do movimento, Marcela Fogaça, essa permissão deveria ter sido dada como garantia do direito à livre expressão e organização, prevista na Constituição Federal. O movimento enviou um ofício à GCM insistindo nesses pedidos e aguarda resposta.
Tudo em ordem
A criatividade das pessoas - que encaixam entre seus compromissos cotidianos um horário para visita ao local – conseguiu apresentar soluções às necessidades básicas. Pia, panelas, talheres, copos e armazém de comida são cuidados por todos. Os pertences pessoais são organizados por grupos de afinidade, para evitar perdas. A Comissão de Comunicação trabalha diuturnamente, quando não é traída pelo gerador, para acelerar a divulgação de informações. Acordada também fica a Comissão de Segurança, organizada pelo revezamento de seus membros em turnos diferentes.

Se o empenho da militância já tem sido importante para o funcionamento do acampamento, as doações também são fundamentais. O movimento arca com suas necessidades – e, assim, mantem a autonomia diante do Estado, governos, empresas e partidos, contando apenas com recursos e materiais doados pela população. As assembleias realizadas todos os dias dão rumo aos encaminhamentos propostos pelas comissões.

Fora da ordem
O movimento aprovou, na última terça-feira, um novo manifesto, onde defende “mudança completa do sistema politico” e “participação na construção do nosso Brasil”. “Chega de decisões unilaterais concentradas nas mãos dos mais ricos dentre os ricos”, completa.

As atividades no local da ocupação se intensificam, e uma comissão de programação pretende convidar membros de movimentos sociais e intelectuais de esquerda para levarem suas contribuições. O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, compareceu ao local e lembrou que o Vale do Anhangabaú é palco de manifestações populares a muito tempo, tendo como destaque o histórico e massivo comício das diretas. Referindo-se aos novos protestos, Lancellotti afirmou que “esta manifestação é legítima, verdadeira e necessária”.
O movimento planeja organizar outras ações pela cidade. Na sexta-feira está agendada uma ação na sede da Bovespa. Sem certeza do tempo que será possível permanecer no local, este é mais um passo na organização política dessas pessoas – as que estão indignadas por algum e as indignadas por muitos motivos.

21/10/2011

kadafi morto: o pacto dos povos acabará com o horror absurdo

A imagem de Kadafi morto corre o mundo (veja aqui). Choca, assusta. Quem vê, e ainda tem um mínimo de sensibilidade,  automaticamente pergunta a si próprio se realmente é necessário que sejam divulgadas imagens assim. Sejam de ditadores ou de militantes, de assassinos ou de vítimas.
Pelo menos por um aspecto é legítimo que sejam divulgadas. Principalmente quando se trata de uma figura famosa, polêmica, marcante.

Pois aí nos chocamos com mais intensidade, a imagem atinge-nos com mais crueza. Afinal alguém tão poderoso e tão falado,  até há pouco tempo, está agora morto, ferido, sangrado, imóvel - exposto como um animal em sua imobilidade, o sangue coagulado em sua face tornando ainda mais chocante essa exposição.

Mas, para além da óbvia lembrança de nossa animalidade e fragilidade, imagens assim remetem a uma outra dimensão: as consequências de uma guerra, seja ela motivada pelo que for.  Aí refletimos: quantos corpos - anôminos e vulneráveis -,  são assim feridos, sangrados, linchados, expostos, mutilados, numa guerra, qualquer que seja ela?

A guerra não presta, a guerra é o horror, a guerra é a liberação daquilo que temos de pior: a  brutalidade em potencial, adormecida,  combinada com a nossa assustadora inteligência para fabricar e manusear técnicas e equipamentos terríveis.

A guerra não presta, a guerra tem que ser banida da humanidade. A eliminação da guerra com certeza tem que ser uma da principais preocupações da Rebelião Planetária e, com certeza, será uma conqusita  do Pacto dos Povos. Que a morte, e a exposiçao da morte de Kadafi, reforce essa preocupação e esse choque com a guerra.

A propósito, o texto abaixo retrata um pouco das motivações de tantas guerras. Não traz muito de novo, apenas lembra-noso da presença dos gansgters de sempre, na motivação, inspiraçaõ ou condução dessas horríveis guerras. Também lembra algo interessante: a morte de ex-aliados que se tornam inimigos dos comandantes europeus e americanos é sempre brutal, impiedosa, e parentemente nunca pode ser evitada.
Para quem quiseu ver mais imagens da morte de Kadafi: folha online e  you tube (prisão e linchamento) 

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os gangsters imperialistas
Kadafi foi assassinado para que não fosse levado a nenhum tribunal, onde poderia contar tudo o que sabia sobre as relações entre seu governo e a CIA, o governo e os serviços de inteligência britânicos, Sarkozy e seus “barbudos”, Berlusconi e a máfia, e poderia também lembrar quem são Jibril e Jalil, principais líderes atuais do Conselho Nacional de Transição e, até bem pouco tempo, seus fieis agentes e servidores. O artigo é de Guillermo Almeyra.
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Um vídeo, publicado pelo Le Monde, mostra Muammar Kadafi capturado vivo e lichado por seus inimigos. Ele não morreu, portanto, em um bombardeio da OTAN quando fugia em um comboio nem em consequência das feridas recebidas quando o levavam em uma ambulância.

Ele foi simplesmente assassinado para que não fosse levado a nenhum tribunal porque aí poderia contar tudo o que sabia sobre as relações entre seu governo e a CIA, o governo e os serviços de inteligência britânicos, Sarkozy e seus “barbudos”, Berlusconi e a máfia, e poderia também lembrar quem são Jibril e Jalil, principais líderes atuais do Conselho Nacional de Transição e, até bem pouco tempo, seus fieis agentes e servidores.

A lista dos limões espremidos é longa: o panamenho Noriega, agente da CIA convertido em um estorvo, salvou-se do bombardeio ao Panamá que tentava assassiná-lo e jamais foi apresentado em um tribunal legítimo. Saddam Hussein, agentes dos EUA durante a longa guerra de oito anos contra os curdos e contra o Irã, teve sim um processo em um tribunal, mas composto por funcionários dos EUA e carrascos, nada de sua defesa política ganhou repercussão e terminou enforcado de modo infame.

Bin Laden, agente da CIA junto com os talibãs durante toda a guerra contra os soviéticos no Afeganistão e sócio do presidente George Bush na indústria petroleira, foi assassinado desarmado em uma grande operação típica de gangsters e foi lançado ao mar para que não falasse em um processo e para que nem sequer sua tumba pudesse servir como ponto de encontro a todos os que no Paquistão e no Afeganistão repudiam o colonialismo dos criminosos imperialistas.

Agora, os imperialistas franco-anglo-estadunidenses acabam de utilizar a barbárie e o ódio inter-tribal para se livrar de Kadafi que, como prisioneiro, era um perigo para eles. O novo governo líbio que surgirá depois de uma luta feroz entre os diversos clãs e interesses que integram o atual CNT, poderá renegociar assim a relação de forças entre as diferentes regiões e tribos sem o kadafismo e sob a tentativa imperialista de submetê-lo, mas afogou o passado em um banho de sangue e nasce coberto de horror e de infâmia perante o mundo.

Kadafi não será lembrado pelos líbios como um novo Omar Mukhtar, o líder da resistência ao imperialismo italiano enforcado pelos fascistas, porque antes de ser assassinado por seus ex-sócios e servidores também foi responsável por inúmeros crimes e enormes traições. Mas seu linchamento cairá como uma mancha a mais sobre seus executores e sobre os mandantes da turba feroz que o despedaçou aplicando-lhe a pena de morte selvagem que os imperialistas decretam contra seus agentes que precisam despachar. carta maior, 20/10

grécia: poesia e drama na resistência

E se mantém acesa  a vibrante e já heróica resistência do povo grego

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mesmo que  em meio a dias nebulosos,
o povo grego resiste e marcha

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crime contra a humanidade: além da opressão  e da destruição de vidas,
o comandantes do mundo promovem a destruição da história e da memória da
humanidade;  aliás, diz-se que foi asssutadora,  no iraque, a destruição
 e o roubo de monumentos  e peças arqueológicas, feita por ameicanos e europeus
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mas sob as bênçãos de sua milenar e épica história
os gregos esperam e caminham30934
caminham, carregando bandeiras que os povos do mundo inteiro
 reconhecem e abraçam.
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belas e comventes imagens: se na outra foto  o revolucionário latinoamericano che guevara está presente na resistência dos gregos, aqui é a bailarina  que se tornou um símbolo da rebelião do
povo americano, no ocupa wall street, a dançar sobre o touro de wall street, marca da
cegueira e da irracionalidade

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essa última foto lembra aquela do manifestante na tunísia, a
enfrentar solitário e e frágil as froças da repressão
 e da irracionalidade - veja em o desafio da fragilidade

20/10/2011

kadafi morto

foto: folha online 

líbia, petróleo e democracia
Quatro semanas de bombardeios intensos dos caças da Otan precederam a captura e morte de Kadafi, nesta 5ª feira, na Líbia. Sirte, a cidade nuclear no centro das operações, foi reduzida a ruínas. Mais de 100 pessoas morreram nos últimos 10 dias. Há centenas de feridos e encarcerados. A violência não se limita aos combates.Um relatório da Anistia Internacional, de 13 de outubro, "Detention Abuses Staining the New Libya", denuncia a persistencia de prisões arbitrárias, sem julgamento, por parte de milícias incorporadas ao governo provisório rebelde. A prática da tortura é generalizada nas prisões, seja por vingança, seja como método sancionado de coleta de informação. Se o Conselho Nacional de Transição (CNT) não der mostras de "uma ação firme e imediata", diz o Relatório da Anistia, a Líbia corre "um risco real de ver algumas tendências do passado repetirem-se.O documento resume as conclusões de uma delegação da Anistia Internacional que, entre 18 de agosto e 21 de setembro, recolheu os testemunhos de perto de três centenas de prisioneiros em 11 instalações de detenção da capital, Tripoli, bem como de Zawiyah e outras regiões do país. As imagens de Kadafi banhado em sangue, com o rosto desfigurado, morto após captura, ocuparam hoje um espaço de destaque, algo jubiloso, em veículos tradicionalmente empenhados em cobrar o respeito aos direitos humanos, sobretudo de regimes cujos governantes, em sua opinião, não comungam valores democráticos. Carta Maior repudia a tortura, o arbítrio e a opressão --política e econômica, posto que são indissociáveis-- em qualquer idioma e latitude. Não se constrói uma sociedade justa e libertária com o empréstimo dos métodos que qualificam o seu oposto. A história dirá se o que assistimos hoje na Líbia atende às justas aspirações das etnias líbias por liberdade e justiça social, ou configura apenas uma cortina de fumaça feita de bombas e opacidade midiática para lubrificar o assalto das potências ao petróleo local. (Carta Maior; 6ª feira, 21/10/ 2011)

17/10/2011

15 de outubro: a rebelião dos povos começa a dizer a que veio

Para quem esperava manifestações por demais pacíficas neste 15 de outubro, e para quem acha que a Rebelião dos Povos vai se resumir a uma espécie de desobediência civil planetária, uma espécie de bem comportada revolução "dentro da ordem", nos moldes do pacífico movimento de Gandhi  e de outros, os protestos em vários países da Europa (veja o texto Milhares protestam na Europa... publicado logo abaixo) mostram uma outra realidade, mostram um movimento contundente, disposto ao enfrentamento, disposto a impor aos comandantes do mundo, se preciso for,  um real e amplo Pacto entre os Povos, e não uam mera reforma ou "humanização' do capitalismo.

A questão não é debater se essa contundência, se esse eventual enfrentamento e imposição é o melhor caminho para a construção do Pacto dos Povos.
Pois na verdade ele é o único caminho e, isso, porque  já estamos no limite do descontrole e da irraciuonalidade deste obsoleto e decadente sistema chamdo de capitalsimo. Isso, porque ninguém aguenta mais viver uma vida que não é sua, uma vida que lhe é imposta todos os dias; isso, porque ainda existem pessoas, aos milhares e  milhões, que despertam para a possibilidade uma nova existência neste planeta.

Um novo mundo e uma nova existência, onde, para além da dignidade econômica, cultural  e social - a ser finalmente possibilitada a todas as pessoas - haverá um novo sentido no nosso viver, nosso existir, nosso agir, nosso amar, nosso trabalhar.

Por isso essa Rebelião dos Povos tem surpreendido e irá aindo muito surprender: pois a sua motivação é muito mais profunda do que a mera e cotidiana preocupação com uma sobrevivência materialmente digna, num sistema  cada vez mais veloz, desumano, delirante e massacrante. 
Além da tarefa de derrotar esse sistema, o que motiva essa fabulosa Rebelião é  o vislumbre, a possibilidade de que, da vida de cada um e de todos nós, pode e deve ser construído algo mais solene, reverente e gratificantedo que essa existência empobrecida e medrosa, limitada e egocêntrica, à qual estamos todos aprisionados, por mais que, individualmente, nos consideremos livres, lúcidos.  

E os comandantes do mundo somente estarão dispostos a ouvir a Rebelião dos Povos se de fato ela se transformar nisto a que ela se propõe, ou seja, numa verdadeira  e irreversível  Rebelião de Povos do mundo inteiro.
Por isso é que seria ingenuidade e reacionarismo condenar a contundência, a energia e o enfrentamento, quando eles tiverem que se fazer necessários. E, certamente, que nos começos da Rebelião e da Cosntrução do Pacto, tudo isso estará presente, seja por meses, anos ou décadas. Posi também não sabemos até quando se fará necessária a Rebelião, como também não sabemos até que ponto teremos que negociar com os atuais comandantes do mundo a construçao do Pacto dos Povos.

Quanto à "receita"  desse novo mundo e  dessa nova existência, quanto às bases do pacto dos Povos, é má-fé, ingenuidade ou presunção querer que tudo isso já esteja definido. Mal estamos começando a  despertar para a necessidade e a possibilidade deste novo mundo. As bases, os conceitos, as idéias, as propostas, os modelos, enfim, a 'receita', tudo isso virá exatamente do movimento, das ruas, dois encontros.
Como, aliás, ja está vindo - cada encontro, cada acampamento, cada protesto, vai não apenas fortalecendo a Rebelião dos Povos como também vai  clareando, definindo, vai erguendo um pouco  mais a grandiosa e pioneira Construção do Pacto dos Povos

E cada dia, cada encontro, cada protesto, é também uma preparação para a primeira das Festas da Humanidade. 

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A propósito da cobrança que a mídia, os analistas políticos, as pessoas comuns - simpatizantes ou não, despertas ou não -  fazem à Rebelião dos Povos acerca de suas propostas, de sua clareza de projetos, da 'receita', das propstas etc vale a pena ler um brevíssimo texto de Carta Maior, As ruas não têm clareza..., também publicado logo abaixo. 

notícias do 15 de outubro: a rebelião mundial

Nada  mais nada menos do que 300 a 500 mil pessoas foram para as ruas de Madri, fazendo-se presentes à concvocação da primeira Rebelião Planetária.
Leia aqui sobre a manifestação em Madri e nas outras cidades da Espanha.
Aqui, veja sobre a manifestação em Porto Alegre .
E, abaixo, leia sobre a Rebelião dos Povos em vários países da Europa:

Milhares protestam na Europa contra ditadura do mercado


“A bolsa ou a vida!” O cartaz colocado na fachada do edifício da Bolsa de Bruxelas serviu de fio condutor da jornada “unidos por uma mudança global” que reuniu dezenas de milhares de pessoas em todo o planeta neste sábado. Ao longo trajeto pela capital belga, cada vez que os cerca de 7 mil manifestantes passavam por um banco ou qualquer outra instituição financeira um coro de vaias e gritos em todos os idiomas possíveis rompia o consenso festivo da marcha. Assim como em outras capitais do mundo, a impunidade dos bancos foi o alvo principal da manifestação popular. “Culpables, ladrones cabrones”, gritava um enraivecido senhor belga de aproximadamente 50 anos que aprendeu com um indignado espanhol a dizer essas palavras em castelhano. Quando a marcha chegou à sede da bolsa, a gritaria se tornou um slogan comum: “Culpados!”.
Logo em seguida, os indignados vindos de vários países da Europa lançaram uma chuva de sapatos contra o edifício da Bolsa, ante o olhar atônito e cheio de incompreensão dos jornalistas belgas que cobriam o evento. Um imenso fosso segue separando os círculos oficiais dos meios de comunicação e os milhares de jovens e adultos que saíram às ruas para expressar seu rechaço e sua repugnância frente a um sistema mundial que protege e subvenciona os ladrões e castiga as vítimas com todo o peso da irresponsabilidade e da indolência.
Ao longo da marcha, os indignados colaram dezenas de adesivos nos caixas automáticos de bancos, fizeram uma parada na Praça de Burckère, lançaram muitos insultos na frente da sede do banco Euroclear – a instituição pretende demitir 500 pessoas – sem cansar-se jamais de cantar o hino mundial das marchas: “We are the 99%”, ou seja, os 99% da humanidade vítima da barbárie social perpetrada sim piedade “por esses senhores de gravata, salários de reis e contas bancárias com dinheiro que não pertence a eles”, segundo disse André, um jovem belga com diploma de engenheiro de redes, mas sem trabalho. A medida que ia passando o tempo e os números da participação em outras cidades do mundo iam chegando aos seus ouvidos, os indignados celebravam e aplaudiam o êxito e a visibilidade planetária do movimento. “Não somos nem marionetes, nem mercadoria do liberalismo, somos gente com consciência, e que estamos para que nos vejam”, disse Antonio, um indignado espanhol que se expressavam com orgulho e em um tom alto de voz.

Jon Aguirre Such, um dos integrantes do grupo Democracia Já, da Espanha, que impulsionou o movimento do 15M, resumiu muito bem a situação quando explicou que o alcance e a extensão dos protestos “demonstra que não se trata de um tema que diz respeito unicamente aos espanhóis, mas sim ao mundo inteiro. A crise é mundial, os mercados atuam em escala global, a resposta, então, é mundial”. Até os mais aguerridos militantes contra o sistema financeiro mundial observam espantados a forma como que, paulatinamente, os protestos contra o sistema financeiro, o repúdio à forma que foi reduzida a democracia, vem ganhando as capitais do mundo.

Neste sentido, o economista Thomas Coutrot, co-presidente do movimento ATTAC, assinalou que “o que está acontecendo é um fenômeno muito promissor. Os cidadãos já não querem delegar as decisões aos políticos e aos partidos. Querem influenciar. É uma espécie de retorno às fontes da democracia”.

“Os países da zona euro puseram 160 bilhões de euros para salvar a Grécia sem consultar ninguém, e isso em um momento em que os sistemas sociais da Europa está afundando sob o peso dos cortes orçamentários. Isso não é democracia”, disse, colérico, Jean, outro jovem indignado belga. Ao lado dele, na concentração diante da bolsa, Javier, um indignado espanhol que veio a Bruxelas há uma semana para participar das oficinas sociais organizadas desde o domingo passado, completou o panorama com cifras mais concretas: “Se fazemos um balanço, dá calafrios; os estados europeus entregaram 5,3 trilhões de dólares para resgatar os bancos da crise. Nenhum Estado consultou a população, ou seja, quem vota naqueles que estão no poder. Essa soma equivale a 16 vezes o valor da dívida da Grécia e é mais de 400% do que todos os países da União Europeia gastam, juntos, em educação ou saúde pública. Estão nos tomando como idiotas!”.

Os argumentos destes indignados deixam em uma posição ridícula o punhado de contra-manifestantes que se concentraram no início da marcha para protestar contra os indignados. Era um grupo de dândis, vestidos como tais, a quem um indignado disse: “se vocês não nos deixam decidir, nós não deixaremos vocês dormir”. Com alguns incidentes, vidros quebrados, mas sem choques fortes com a polícia, a marcha belga se dirigiu para o ato final no Parque do Centenário. “Aqui estamos, e somos muitos”, disse Pierre, um indignado francês que caminhou desde Tolouse até Bruxelas. “Estamos aqui, em Roma, Madri, Washington, Nova York, México, Nova Déli, Berlim, Paris, onde seja. Os poderosos do mundo trabalham para um pequeno grupo de amigos, ignorando a vontade popular. Essa lógica nos levou è hactombe que estamos vivendo. Isso acabou”.


O 15-O levantou boa parte do planeta, com maior ou menor êxito segundo o lugar. Em Roma, o protesto ultrapassou as intenções dos indignados. Sob uma enorme faixa que dizia “Povo da Europa, de pé”, dezenas de milhares de italianos encheram as ruas da capital italiana expressando sua indignação. Estudantes, políticos e representantes de associações civis percorreram Roma com globos e cartazes em uma caminhada pacífica até que um pequeno grupo de violentos semeou o caos no centro da cidade. Os incidentes aconteceram perto da estação de trens Roma Termini, na Via Merulana. Não restam dúvidas de que os distúrbios foram provocados pelo que se conhece como “profissionais da provocação urbana”.

Cerca de 200 manifestantes violentos queimaram automóveis, quebraram caixas automáticos, saquearam vitrines e incendiaram um anexo do Ministério da Defesa. Os distúrbios deixaram um saldo de 70 feridos. Nada disso ocorreu em Londres. A marcha londrina iniciou em um clima festivo, mas com episódios engraçados devido à corrida de gato e rato entre a polícia e os manifestantes. A Scotland Yard protegeu com um muro de policiais o objetivo final dos manifestantes, a saber, a Bolsa de Valores de Londres. Os manifestantes conseguiram rodear a bolsa, mas sem maiores incidentes. Ante a surpresa geral, Julian Assange, fundador de Wikileaks, detido na Grã-Bretanha a espera de uma decisão judicial sobre o pedido de sua extradição para a Suécia, somou-se aos manifestantes. Assange disse á multidão que estava ali em “solidariedade com os movimentos que estão ocorrendo no mundo inteiro” e porque “todos queremos que haja um pouco de justiça no sistema financeiro mundial”.

Madri e Barcelona também foram cenário de mobilizações impressionantes. Em Madri, os indignados lotaram a praça Cibeles e voltaram a ocupar a Porta do Sol, símbolo histórico dos protestos do 15M. Os indignados da capital espanhola puseram em cena um “escudo anti-mercados”. Cada manifestante levantou o amuleto que tinha na mão para afuguentar a “magia negra” dos mercados. Em Barcelona, dezenas de milhares de pessoas se concentraram na Praça da Catalunha com o mesmo propósito que animou manifestações no resto do planeta. A única diferença radica em uma cifra: o desemprego dos jovens na Espanha é de 20,89%.

Curiosamente, na França, o país de Stéphane Hessel, autor do livro “Indigne-se”, que deu nome ao movimento através do mundo, as marchas tiveram um impacto limitado. Em Paris houve vários grupos de manifestantes que convergiram para a sede da Prefeitura, onde realizaram uma Assembleia Popular. Os indignados se reuniram também em uma dezena de cidades do país, mas sem alcançar jamais a intensidade de outras cidades do mundo. Os analistas explicam a escassa mobilização pelo fato de que o desemprego da juventude é menor e que, globalmente a situação é melhor do que a da Espanha ou Itália. No entanto, o sistema financeiro goza dos mesmos privilégios e da mesma impunidade em Londres, Madri ou Nova York. O 15-O demonstrou que o espírito da revolta e da indignação semeado há sete meses na Praça do Sol irradia hoje em todo o planeta enquanto os dirigentes políticos guardam um silêncio de mortos ante o desfile das dezenas de milhares de seres vivos que marcham com a mesma consigna: “Basta, Ladrões!”.

As ruas não têm 'clareza'. Quem a tem?


A politização da economia é o primeiro passo para livrar a agenda da crise dos impasses que a prendem em um círculo vicioso infernal. Hoje, uma hegemonia falida dita as regras à superação da própria falência,coisa que nem o código de falência do capitalismo permite. O resultado é o aprofundamento da crise.

A Grécia é o laboratório dessa contradição em termos, cujos desdobramentos não deixam dúvida sobre o lugar a que ela nos leva: desde o início dos planos de 'resgate', em 2010, com suas incansáveis inspetorias e revisões, a insolvência grega só fez se agravar, o desemprego cresceu, as metas ficais estouraram, a relação dívida pública/PIB decola. Suicidas, em número crescente, ilustram o efeito material e subjetivo do conjunto na vida da população.
Muitos se perguntam de que servem as mobilizações de rua se seus participantes - jovens em sua maioria - não tem 'clareza' (os banqueiros a teriam, por suposto) do que fazer diante do gigantismo de impasses que ameaçam a própria sobrevivência do sistema financeiro mundial.
As ruas nunca deram respostas técnicas para impasses históricos. O papel das ruas nesse momento é justamente libertar a economia da fraudulenta camisa-de-força 'técnica' que circunscreve a busca de alternativas aos limites intocáveis dos interesses geradores da crise. O longo crepúsculo neoliberal sugere que não há oxigênio renovador nesse espaço estreito e abafado. Não se trata de sancionar, por contraposição, a panacéia voluntarista do movimento pelo movimento.

Zizek em fala magistral aos acampados de Wall Street (leia nesta pág.) advertiu-o muito bem: "Não nos apaixonemos por nós mesmos. É bom estar aqui, mas lembrem-se, os carnavais são baratos". Os movimentos de rua terão que argüir seus próprios limites e rompê-los em alianças e convergências com forças, partidos e plataformas de recorte progressivamente mais objetivo. Mas o passo que antecede a todos os demais é esse que está sendo jogado nesse momento: a politização da economia e o exercício prático, urgente, de uma outra democracia.

14/10/2011

amanhã, sábado, 15/10/2011: o primeiro dia da primeira Rebelião Planetária!!!

E a Rebelião dos Povos se espalha de fato pelo Ocidennte, agora de forma articulada, plenamente consciente de seu papel e, principalmente, de suas possibilidades  enqanto movimento planetário, mundial.

É o início concreto da imposição do Colapso do Capitalismo e da construção do Pacto dos Povos.


 “No dia 15 de Outubro pessoas de todo o mundo tomarão as ruas e as praças. Da América à Ásia, de África à Europa, as pessoas estão a erguer-se para lutar pelos seus direitos e pedir uma autêntica democracia. Agora chegou o momento de nos unirmos num protesto não violento à escala global.

Os poderes estabelecidos actuam em benefício de uns poucos, ignorando a vontade da grande maioria e sem se importarem com o custo humano ou ecológico que tenhamos que pagar. Há que pôr fim a esta situação intolerável.

Unidos em uma só voz, faremos saber aos políticos e às elites financeiras que eles servem, que agora somos nós, o povo, que decidirá o nosso futuro. Não somos mercadorias nas mãos de políticos e banqueiros que não nos representam.

No dia 15 de Outubro encontramo-nos nas ruas para pôr em marcha a mudança global que queremos. Vamos manifestar-nos pacificamente e vamos organizar-nos até atingirmos o nosso objectivo.
Chegou a hora de nos unirmos. Chegou a hora de nos ouvirem.”

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No site http://www.democraciarealbrasil.org/ veja a relação das cidades nas quais estão previstas as manifestações aqui no Brasil.


entre a balada e a revolta

Porque essa Marcha Contra  a Corrupção provoca tamanha empolgação da mídia nativa,  Globo à frente, como sempre? E  o Grito dos Excluídos, realizado no mesmo dia que  a marcha começou - 07 de setembro, e o Ocupa Wall Street, porque não têm  a mesma empolgação?
Uma pista, talvez: O Grito, o Ocupa e tantas outras ações espalhadas pelo planeta pedem, ousam muito mais do que uma simples questão local, por mais legítima que ela seja, como o é a questão do Combate à Corrupção.

Só que na Rebelião dos Povos ataca-se, enfrenta-se a  causa da corrupção e de todos os outros problemas que os povos vivem; lá ousa-se pedir, exigir uma transformação radical do modo de vida no planeta, lá ousa-se vislumbrar uma nova forma de organização social e econômica para a humanidade.
Talvez seja por isso a diferença nos graus de empolgação da mídia: aqueles movimentos que ameaçam, de fato, a ordem estabelecida não podem e não devem merecer uma elogios ou mesmo uma cobertura séria, crítica, fundamentada. 

Devem ser desqualificados como baderna, aventura ou irrealistas. Somente os movimentos inofensivos, bem comportados, que seguem o figurino da democracia (aquela democracia  desejada e sustentada pela ordem dominante) esses, sim, devem ser aplaudidos, encorajados, considerados seriamente por repórteres, apresentadores, analistas, acadêmicos, especialistas, e quem mais a ordem estabelecida consegue comprar ou seduzir.

Mesmo porque, um movimento exclusivamente contra a corrupção sempre ajuda a espalhar a ideía de que o atual governo resume-se  apenas a casos de desmandos e bandalheiras com o dinheiro público. E, assim, sempre pode ser útil para determinadas forças políticas derrotadas voltarem a assumir o governo. 

O texto abaixo analisa com bastante propriedade essas ambiguidades da Marcha contra a Corrupção e  da cobertura da mídia nativa.  

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Por Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa
Apesar do esforço da imprensa brasileira, as manifestações contra a corrupção, que pipocaram no feriado da quarta-feira (12/10) por várias cidades do país, não chegaram a empolgar. As fotografias nas primeiras páginas dos jornais, mostrando jovens de classe média com o rosto pintado, estão mais próximas de uma “balada” do que de expressar sinais de revolta.

Por outro lado, apesar do descaso inicial da imprensa americana, as manifestações inspiradas no movimento “Ocupe Wall Street” se espalham por muitas cidades dos Estados Unidos e se consolidam como uma revolta das classes médias de maioria anglo-saxônica.

As declarações e imagens colhidas pelos jornalistas nas concentrações dos americanos refletem a inconformidade com a situação econômica do país e o fato de adotarem Wall Street como alvo traz um foco muito claro para os protestos.

Maioria silenciosa
O que difere essencialmente os dois acontecimentos?
Primeiro, observe-se a contradição: nos Estados Unidos, onde a imprensa claramente vem tratando com má vontade as manifestações, apenas dando atenção a elas quando ocorreram os primeiros atos de violência policial, os eventos se multiplicam e ganham consistência apesar do descaso inicial da mídia.

No Brasil, desde o primeiro grito do “Cansei!”, a imprensa tenta dar alguma credibilidade a manifestações esparsas contra a corrupção, sem qualquer resultado concreto – falta povo para transformar as passeatas em fato social.
Nem mesmo declarações oportunistas de líderes religiosos – como aconteceu durante a missa festiva na basílica de Aparecida – funciona como liga: a própria igreja católica, afetada por denúncias de pedofilia nunca satisfatoriamente respondidas, carece de autoridade para levantar a voz contra corruptos e corruptores.

A razão para essas diferenças talvez esteja na natureza dos fatos que oficialmente motivam as mobilizações. Os movimentos de massa são sempre impulsionados por uma percepção geral de mal-estar, mas é preciso que exista um ponto focal para tirar as pessoas de seu imobilismo.
Nos Estados Unidos, é clara a percepção de que o mal-estar está relacionado ao sistema econômico, cujo epicentro é a especulação financeira. Wall Street simboliza os responsáveis pelo mal percebido pela maioria silenciosa, e a revolta tem um claro viés de apoio ao esforço do governo Obama de colocar algum controle no cassino.
Quem atira a primeira pedra?

No Brasil, a dificuldade de se identificar um alvo para os protestos começa pela percepção de que a corrupção não pode ser localizada ou personalizada, tal sua presença nas instituições.
Apesar do esforço da imprensa em apontar para Brasília, o cidadão sabe que a corrupção está presente no fiscal que se apropria de parte dos ganhos do feirante, no policial que vende aos condomínios como serviço privado a proteção que é pago para fazer como servidor público, e em muitos outros aspectos da vida civil.

Por outro lado, os cidadãos sabem, ou desconfiam, que a corrupção domina as relações políticas não apenas na capital federal, mas também nos estados e municípios, apesar de esses eventos raramente ganharem manchetes de jornal.

Ao contrário dos Estados Unidos, a situação econômica no Brasil produz uma sensação de bem-estar e otimismo que desestimula desejos de mudança radical. O brasileiro médio sente-se claramente revoltado com os sinais de corrupção e impunidade, mas sabe que, ao aderir a um movimento coletivo, perde a individualidade e passa a ser usado como massa de manobra das lideranças.

E quem são os líderes das passeatas? Por enquanto, ninguém em quem se possa confiar.
O Judiciário, minado pela impunidade, pelos privilégios e pela insistência de seus representantes em rejeitar o controle externo, há muito deixou de ser uma esperança de correção. No Parlamento, o sistema de escambo transforma os supostos representantes dos eleitores em suspeitos preferenciais. E o Executivo, apesar dos últimos esforços destacados pela imprensa, ainda não demonstrou que deseja de fato romper o círculo de dependência imposto pelas alianças partidárias.
Assim, restaria à imprensa a missão de tomar a tocha da moralidade pública e catalisar os protestos em busca de mudanças reais no sistema político-institucional. Mas a mídia é parte e beneficiária do sistema. Se eventualmente se coloca na oposição, é porque faz escolhas ideológicas que a distanciam circunstancialmente do poder político. Além disso, apesar de algumas pesquisas formais apontarem a preservação do núcleo de credibilidade da instituição imprensa, ela está longe de representar os interesses difusos da sociedade.

13/10/2011

vai invadir, obama?

O dilema dos gorilas
É bom poder  levar a coisa no bom humor, ainda mais quando a charge acerta em cheio, como nessa do Maringoni.
Mas é preciso ter em mente que a brincadeira pode se transormar em drama. Pois somente os desinformados e  os mal-formados de sempre  - esses eternos e ingênuos crédulos na tão decantada democracia americana - teriam a ingenuidade, ou a má-fé, de afirmar que nos EUA jamais acontecer poderá ocorrer a violenta repressão que aconteceu nos países árabes. Quando o poder das elites e dos comandantes do capitalismo americano se vir de fato encurralado pela Rebelião de seu povo, certamente a tentação, ou a possibilidade, de reprimir com violência e crueldade será muito fotrte. Infelizmente, não será tranquilo o processo de transição para o novo mundo que se anuncia. 

11/10/2011

steve jobs: outro olhar, junto com justin

Embora já tenha passado a avalanche de homenagens a Steve Jobs, vale ler agora um texto um pouco mais reflexivo,  que, sem tirar os méritos profissionais de Jobs, vai na contramão desse endeusamento irrefletido, dessa recorrente e doentia necessidade que as pessoas (em meio à  instabilidade e perplexidade geradas pela manipulação do capitalismo) têm de criar mitos, símbolos, referências, que, no mais das vezes, são descartadas depois e um certo tempo, depois de servirem como catarse e anestesias e de serem susbstituídos por novas referências e 'celebridades'.

O texto mostra Jobs estava mais para eficiente e inovador comandante capitalista do que para criativo indivíduo a serviço da realização  das pessoas - como se felicidade e plenitrude autênticas pudessem existir defato sem passar antes pela transformação radical desse atual modelo de organziação social e econômica, ao qual o próprio Jobs, como dito acima, serviu com competência, talento e criatividade. Segue o endereço:

A morte de Steve Jobs, o inimigo número um da colaboração
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E já que se trata de andar na contramão, um pouco de Rock in Rio e Justin Bieber. Na verdade, é tão esdrúxulo, hilariante e ofensivo chamar o evento no Rio de "rock", que quase nenhum veículo alternativo se preocupou em fazer a crítica do tal evento, que de rock... (risos, risos, risos...já que existem coisas mais sérias contra as quais se indignr)

Afinal, nesses vibrantes dias de outubro,  havia tantos e interessantess acontecimentos pelo  mundo afora para acompanhar: enquanto  militantes de diversas partes do planeta consolidavam a Rebelião dos Povos, nós aqui no Brasil tínhamos que suportar essa gastura lançada  aos nossos ouvidos pela mídia e pelos 'delírios' adolescentes, juvenis e até memso de adultos que viveram as décadas 60,70 e 80 e que, pasme-se, viram no tal evento um resgate de verdadeiro rock.
Credo! Como se diz por aí: a que ponto chegamos! Como estamos perto do Admirável Mundo Novo, de Huxley, e do 1984, de Orwell, com essa triste e patética inversão de conceitos, verdades e memórias...

Mas já que Petersen Filho assumiu para si o sacrifício e a a 'gastura' de comentar Justin Bieber, o texto merece aqui uma indicação, afinal alguém tinha que ao menos tentar colocar as coisas no seu devido lugar - tristes tempos de infância e adolescência plastificadas...

Justin Bieber: mais um produto tipo coca-cola

Pensando bem, em pelo menos algum ponto o budista Steve Jobs faz par com o jovenzinho Bieber: criou mariavilhas tecnológicas para que a entusiamada massa adolescente e adulta possa ver e ouvir, nessas mesmas  maravilhas tecnológicas,  as maravilhas musicais dessa pós-modernidade, sejam as maravilhas do menino Justin, sejam as maravilhas de alguns adultos como o daquele evento no Rio. 

assine petição pela Rebelião dos Povos

Milhares de norte-americanos ocuparam sem violência a Wall Street - um epicentro do poder financeiro global e da corrupção. Eles são os últimos raios de luz em um novo movimento pela justiça social que está se espalhando rapidamente pelo mundo: de Madrid a Jerusalém e a 146 outras cidades, com outras aderindo a cada instante. Mas eles precisam de nossa ajuda para triunfarem.
Como são as famílias de trabalhadores que estão pagando a conta de uma crise financeira causada por elites corruptas, os manifestantes estão exigindo uma verdadeira democracia, justiça social e combate à corrupção. Mas eles estão sob forte pressão das autoridades e alguns meios de comunicação estão retratando-os como grupos extremistas. Se milhões de nós de todo o mundo os apoiarem, vamos aumentar a sua determinação e mostrar a mídia e aos líderes que os protestos fazem parte de um movimento massivo pela mudança.

Este ano pode ser o nosso 1968 desse século, mas para ter sucesso ele deve ser um movimento de todos os cidadãos, de todas classes sociais. Clique para participar da campanha para a democracia real - um contador gigante será erguido no centro da ocupação em Nova York mostrando ao vivo cada um de nós que assinarmos a petição e retransmitido ao vivo na página da petição.
A onda mundial de protestos é o capítulo mais recente na história deste ano do poder global do povo. No Egito, as pessoas tomaram a praça Tahrir e derrubaram seu ditador. Na Índia, o jejum de um homem trouxe milhões às ruas e o governo teve que ceder - vencendo uma ação real para acabar com a corrupção. Durante meses, os cidadãos gregos protestam sem descanso contra os injustos cortes nos gastos públicos. Na Espanha, milhares de "indignados" desafiaram a proibição de manifestações pré-eleitoral e montaram um acampamento de protesto na praça do Sol para manifestar contra a corrupção política e a manipulação do governo da crise econômica. E neste verão em Israel as pessoas construíram "cidades de tendas" para protestar contra o aumento dos custos de habitação e por justiça social.
Estes assuntos nacionais estão ligados por uma narrativa global de determinação para acabar com a conivência das elites e de políticos corruptos - que em muitos países ajudaram a causar uma prejudicial crise financeira e agora eles querem que as famílias de trabalhadores paguem a conta. O movimento de massas que está respondendo a isso pode não só garantir que o ônus da recessão não caia sobre os mais vulneráveis, mas também pode ajudar a melhorar o equilíbrio de poder entre democracia e corrupção. Clique para apoiar o movimento:

Em cada revolta, do Cairo a Nova York, o pedido por um governo responsável que sirva o povo é claro e nossa comunidade global tem apoiado esse poder do povo em todo o mundo, onde quer que tenha surgido. O tempo em que os políticos ficavam nas mãos dos poucos corruptos está terminando e, em seu lugar, estamos construindo democracias reais, de, por e para as pessoas.

Wall Street e Portugal

Os protestos de Wall Street e as lutas em Portugal

Os acontecimentos de Wall Street confirmam que o grande capital que controla o sistema de exploração responsável pela crise está preparado para absorver e neutralizar os protestos isolados, mas quando estes se tornam permanentes e assumem um carácter massivo, entra em pânico. O gigante tem pés de barro.

Nos últimos dias os protestos de Wall Street foram tema de manchetes em influentes media internacionais.
Em Washington o governo tenta desvalorizar o significado das manifestações que principiaram com a ocupação por um grupo de "indignados" da rua da Bolsa de Nova York, símbolo do poder do capital.


Mas o que parecia ser a iniciativa inofensiva de um punhado de jovens assumiu rapidamente as proporções de um protesto de dimensões nacionais.
A brutal repressão que no dia 1 Outubro atingiu os jovens que avançavam para Wall Street – mais de 700 prisões e espancamentos – suscitou uma vaga de indignação e gerou solidariedades inesperadas. O movimento alastrou a outras cidades e assumiu um carácter diferente, de contestação ao sistema responsável pela actual crise mundial.

O discurso de Obama no 10º aniversário da invasão do Afeganistão produziu um efeito oposto ao desejado pela Casa Branca, empenhada em desviar as atenções dos acontecimentos de Wall Street. Ao homenagear os mortos americanos e das forças da NATO, o Presidente mentiu. Para justificar a agressão afirmou que o pais está agora mais "seguro" e a caminho do progresso. Na realidade, a guerra está perdida e o povo afegão, empobrecido, odeia os ocupantes, como reconhece o general Mc Chrystal, ex comandante-chefe demitido por Obama.
A peça oratória do Presidente, marcada pela hipocrisia, trouxe à memória dos compatriotas, os discursos em que Nixon há 40 anos prometia a vitoria no Vietname e invocava a democracia e a liberdade enquanto promovia a escalada num conflito em que morreram mais de um milhão de vietnamitas.
É oportuno lembrar que no inicio dos ano 70 do século passado foram os protestos torrenciais da juventude estado-unidense contra a guerra que forçaram Nixon a negociar com Hanói a retirada dos EUA do Vietname, num acordo que foi o prólogo da derrota americana no Sudeste Asiático.

A analogia das situações, sublinhada por observadores internacionais, termina, porem, aí.
A repulsa crescente do povo americano pelas guerras neocoloniais do Iraque, do Afeganistão e da Líbia está a evoluir nos EUA para uma atitude de protesto contra o sistema do qual Wall Street, como vitrina do capital, é o símbolo.

Alguns sindicatos tornaram público o seu apoio ao movimento iniciado por jovens. Dirigentes seus desfilaram já em frente do Stock Exchange, o edifício da Bolsa; E centenas de pilotos de grandes companhias aéreas imitaram-nos. A auto-intitulada Assembleia-geral da Cidade de Nova York lançou um apelo com a palavra de ordem "ocupem as ruas!". Universidades prestigiadas aderem às manifestações.

Num dos desfiles uma estudante exibia um cartaz expressivo: "Ninguém é mais completamente escravizado do que aquele que acredita falsamente ser livre" – Goethe.
Noam Chomsky, Michael Moore e outras personalidades progressistas de prestígio internacional deslocaram-se a Wall Street e escreveram artigos apoiando o protesto.

A Casa Branca tem motivos para estar preocupada. Num país onde as fortunas de 400 multimilionários excedem os bens, somados, de metade da população – como lembra Michael Moore – as palavras de ordem dos manifestantes são agora mais radicais. Muitos passam da crítica ao sistema e da responsabilização dos banqueiros e especuladores à condenação do capitalismo.
Os grandes da Finança estão alarmados. Um protesto de jovens que inicialmente subestimaram como coisa de hippies está a tomar um rumo que definem como "perigoso".

QUE LIÇÕES PARA PORTUGAL?

Os media portugueses ditos de referência têm dedicado pouca atenção aos acontecimentos da Wall Street.
Para as forças progressistas, eles constituem, porém, tema de reflexão. Um dos seus ensinamentos é a demonstração inesperada de que no maior baluarte do capitalismo tem sido possível contestar o sistema nas ruas de forma permanente há mais de três semanas.

Em Portugal as manifestações contra a política de traição nacional impostas pelo imperialismo através do governo que o representa também, para atingirem o seu objectivo devem assumir carácter permanente, mediante iniciativas diversificadas.
A CGTP anunciou no dia 1de Outubro uma semana de luta no final do mês, que incluirá greves sectoriais.

As manifestações de Lisboa e do Porto levaram o pânico ao grande capital. É significativo que a PSP tenha sem demora divulgado um comunicado no qual prevê que a contestação social às medidas do memorando da troika desemboque em "tumultos" e actos de violência "semelhantes aos do PREC".
Esse berro reaccionário vale por uma certeza: o aparelho repressivo do Estado, imitando o grego, prepara-se para infiltrar provocadores em protestos massivos que traduzam o descontentamento popular perante as calamidades que atingem o País. Alguns jornais antecipam-se, sugerindo que o PCP pode eventualmente surgir ligado a esses futuros "tumultos", não obstante ser do domínio público que o Partido Comunista sempre condenou a violência irracional (saque de lojas, incêndios, queima de automóveis e edifícios, etc).

A intenção de intimidar os trabalhadores que transparece no comunicado policial tem por complemento o slogan largamente difundido de que somos um povo diferente, de brandos costumes, que abomina a violência social.
Esse discurso e a linguagem usada ocultam mal o propósito de misturar alhos com bugalhos. Os tumultos, os saques, a destruição de edifícios não podem ser confundidos com acções legítimas de violência social. O abismo entre a violência irracional e a violência social é tamanho que até um destacado político de direita como Pacheco Pereira reconhece essa evidência em crónica publicada no jornal Público (8/10/11) em que denuncia a especulação de governantes sobre "tumultos hipotéticos".

Chamo a atenção para o facto porque a luta de massas tende a radicalizar-se em Portugal como resposta defensiva inevitável a uma politica criminosa.
A anunciada semana de luta programada pela CGTP vai trazer algumas respostas a questões teóricas e praticas que condicionam o futuro do povo português.

Repito: os acontecimentos de Wall Street confirmam que o grande capital que controla o sistema de exploração responsável pela crise está preparado para absorver e neutralizar os protestos isolados, mas quando estes se tornam permanentes e assumem um carácter massivo, entra em pânico. O gigante tem pés de barro.

V.N. de Gaia, 10/Outubro/2011

07/10/2011

os melhores entre nós

Para quem ainda acha que o agonizante mundo do capitalismo ainda tudo pode voltar a ter aquele tom de enganoso azul, nestes tempos de  vermelha, vibrante e convulsa Rebelião do Ocidente e Construção do pacto dos Povos 

#OccupyWallStreet
Não há mais desculpas

Ou você se junta à revolta que tomou espaço em Wall Street
e nos distritos financeiros de outras cidades pelo país
ou você está do lado errado da História.

Ou você obstrui a pilhagem da classe criminosa de Wall Street
e a destruição acelerada do ecossistema que sustenta a espécie humana,
da única forma que nos resta, que é a desobediência civil,
ou torna-se o agente passivo de um mal monstruoso.

Ou você prova, sente e cheira a inebriante sensação
de liberdade e de revolta,
ou afunda no miasma do desespero e da apatia.

Ou você é um rebelde
ou é um escravo.

por Chris Hedges, íntegra do artigo The Best Among Us em:
http://www.truthdig.com/report/item/the_best_among_us_20110929/

imagens da rebelião

E os povos de todos os quadrantes do mundo, incansáveis, mantêm acesa a chama da resistência e da transformação. Aos poucos, vai se confirmando a possibilidade de a humanidade, de fato, estar iniciando um novo ciclo, marcado pela construção do Colapso da atual organização social e econômica, e pela imposição do primeiro e verdadeiro Pacto entre povos e pessoas do mundo inteiro - a humanidade pode de fato estar se preparando para a sua a primeira e verdadeira Festa.
A vibrante rebeldia e a lúcida disposição para o enfrentamento rebentam de todos os lados: a pioneira Grécia, os heróicos egípcios, a Espanha, os americanos, os chilenos. E onde a Rebelião dos Povos não está acontecendo neste exato momento, ela com certeza está sendo gestada. Alguns imagens para ilustrar e logo depois um textículo de Carta Maior

povo chileno
foto: carta maior
povo grego
foto: folha online
povo americano
foto: carta maior 
povo espanhol
foto: folha online 
povo chileno
foto: folha online

OUTUBRO: NOVO MARCADOR HISTÓRICO?

Colapso do neoliberalismo passa a ser decidido nas ruas. Primeira semana de outubro reúne ingredientes de um ponto de mutação: greve geral na Grécia põe em xeque a solução ortodoxa para a crise; ascensão fulminante dos indignados nos EUA instala a contestação ao neoliberalismo no coração do sistema financeiro internacional e pauta a sucessão de Obama. Passeatas de desempregados na Espanha afrontam a rendição socialdemocrata aos 'livres mercados'. Radicalização política no Chile desmascara a 'direita moderna da AL' em sua vitrine mais festejada. A maior greve bancária brasileira em duas décadas desmente acomodação sindical e expõe lucros obscenos do poder financeiro. PT fará seminário sobre regulação da mídia.(Carta Maior; 6ª feira,07/10/ 2011)

do egito à américa, um só grito: ocupar, colapsar, transformar

No texto  a besta agonizante começa a escoicear, publicado em janeiro, eu alertava para o equívoco de se julgar indistintamente o povo americano, nos dias de hoje,  como totalmente conformado, alienado e individualista,  lembrando a sua trajetória de posturas libertárias e de enfrenatamentos, enfim lembrava o erro de se confundir o povo americano com as suas elites e os seus apêndices oriundos de uma certa classe média (esses grupos sociais vivem obcecados na sua constrangedora postura de imitadora sem identidade própria, seja lá na América, seja aqui em terras tupiniquins):   

"(...) Mas por mais que a nação americana esteja longe de um histórico de lutas e de tentativas de revoluções socialistas - ao contrário dos países da Europa e de tantos países do chamado terceiro mundo - isso não significa que as elites consigam manter para sempre o povo americano como uma massa amorfa, consumista, barulhenta, despersonalizada, pretensiosa e desconectada das realidades dos diferentes povos do mundo.
Há, sim, um histórico de lutas populares nos Estados Unidos, principalmente no começo do século XX; há,sim, uma tradição libertária em vastos contingentes do povo americano, que culminou inclusive nas lutas antiguerra da década de 60 e nas jamais esquecidas e inigualadas manifestações da geração da contracultura.

Considerar rigorosamente o povo americano incapaz de ultrapassar sua conjuntura, como incapaz de elaborar uma compreensão própria de sua situação hsitórica e, a partir dessa elaboração, avançar dialeticamente no enfrentamento das estruturas de poder e na transformação de sua realidade, uma tal consideração inflexível serve exatamente aos interesses da elite que mantém o povo americano anestesiado e alienado de seu próprio destino. Considerar dessa forma é exatamente fazer o jogo dos mecanismos de controle e dominação.

É preciso aprender a ver o povo americano como tendo a capacidade e a necessidade de, tal como qualquer outro povo, colaborar na tarefa da libertação dos povos, a partir do momento em que promove a sua própria libertação. É preciso aprender a separar a história em potencial do povo americano do execrável e moribunda do império americano, e passar a contar, amis efeetivamente, com o que há nos EUA de movimentos e organizações populares e sociais, para a planetária tarefa de avançar rumo à superação das sociedades de controle e dominação, de desumanização e espoliação.

Enfim, há sempre a possibilidade de que o povo americano, como tantos outros povos, se levante, abra os seus olhos, tome as rédeas de seu destino nas suas mãos - antecipando assim o advento da bonança e expulsando do seu país e do mundo esse pesadelo que se anuncia.(...)"
***********************
E eis que, então, temos a alegria de presenciar, nas últimas semanas, a confirmação dessa capacidade de o povo americano despertar para a sua realidade histórica, de adquirir  sua consciência de classe distinta das elites e de seus apêndices, dando assim a sua importnate contribuição para a Rebelião do Ocidente e para o Pacto dos Povos. A leitura de alguns trechos de um  Manifesto do movimento Ocupa Wall Street, publicados abaixo, mostra o grau dessa consciência e da disposição do Movimento  para o enfrentamento e a organização da luta popular:
1.Que os protestos continuem ativos nas cidades. Que cresçam, se organizem, se conscientizem. Nas cidades em que não há protestos, que eles sejam organizados e quebrem o sistema.
2.Convocamos os trabalhadores não apenas a entrar em greve, mas a tomar coletivamente os seus locais de trabalho e organizá-los democraticamente. Convocamos professores e alunos a agirem juntos e a lecionar democracia, não apenas os professores aos alunos, mas os alunos aos professores. Ocupem as salas de aula e libertem as cabeças juntos.

3.Convocamos os desempregados a se apresentarem como voluntários, a aprenderem, a ensinarem, a usarem as habilidades que tenham para se sustentarem como parte da comunidade popular que se revolta.

4.Convocamos a organização de assembleias populares em cada cidade, cada praça, cada câmara municipal.

5.Convocamos a ocupação e o uso de prédios abandonados, de terras abandonadas, de todas as propriedades ocupadas e abandonadas pelos especuladores, para o povo e para cada grupo que organize o povo.
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Vale também  comparar as candentes palavras do Ocupa Wall Street com a lucidez organizativa e a disposição para o enfrentamento do povo egípcio, seus  ativistas e das entidades que estão a  conduzir o processo de transformação no Egito, que de forma alguma se esgotou com a expulsão  do ditador Mubarak e sua dissimulada substituição por políticos e militares ligados às elites americanas e européias. Leia abaixo:

Comitês populares expressam nova dinâmica social e política no Egito
Eduardo Febbro - Direto do Cairo e de Alexandria

Entre o Cairo e a Alexandria há a distância da história: espaço e tempo, de 2008, 2010, duas datas que desembocaram na Revolução de 2011, na Praça Tahir e, hoje, no enxame de vida, projetos e princípios que, apesar de todos os esforços da junta militar no poder para desviar os ideais da revolução, ela encarnou em dezenas de comitês revolucionários, novos partidos políticos, grupos laicos, comitês populares e movimentos de jovens que passaram do espaço virtual da internet à ação na rua. Mas a história começou na tela de um computador, em 2008, quando um jovem estudante, Ahmad Maher, decidiu lançar o movimento 6 de abril, através do Facebook, em apoio à greve geral dos trabalhadores do algodão, de Mahal el-Kubra, uma das grandes cidades industriais situadas no delta do Nilo. Êxito imediato num país com 17 milhões de pessoas conectadas à internet (20% da população), que seguiram a consigna de Ahmad Maher: “fazer do Egito um país digno e construir as bases de um governo democrático”.

O carro atravessa a região de Quadi Natroun em direção a Alexandria. Ali se jogou a segunda etapa, em 2010. Khaled Said, um blogueiro de Alexandria, foi assassinado a pancadas em plena rua por dois policiais. Khaled tinha 28 anos e tinha difundido na internet um vídeo onde se via dois policiais repartindo a droga que haviam acabado de apreender. Khaled Said se tornou o símbolo de quem, ainda hoje, move a sociedade em direção à mudança. Khaled Said foi preso numa lan house, morreu na rua mas ressuscitou na rede, de novo no Facebook. Sua página reuniu meio milhão de pessoas e suscitou dezenas de milhares de adesões sob o mesmo emblema: “Somos todos Khaled Said”. Fomos e ainda somos. Sem o Movimento 6 de Abril e sem o assassinato de Khaled Said a Revolução da Praça Tahir não teria ocorrido. Chegamos até aqui com a força de ambos e não pararemos até que o Egito tenha uma democracia limpa, não violenta, respeitosa da lei, incorruptível e livre do jogo capitalista”, diz Omar Hossein, um membro dos comitês populares que criados no país ao mesmo tempo em que estourava a revolta na Praça Tahir. Algo novo, inédito no Egito, quase único no mundo por seu caráter autogestionário.

Os comitês populares “Lagna Shaabeyya” fazem tudo: controlam a polícia, velam pelos valores da revolução, protestam contra a sujeira, limpam as ruas, pressionam os governantes, denunciam a corrupção, organizam os bairros e tomam para si as todas os serviços em que o estado é inoperante. Auto-organização popular pura, sem mediadores.

Imbaba é um subúrbio do Norte do Cairo, a leste do Nilo, sob o governo de Gizé, onde estão as grandes pirâmides de Keops, Kefren e Mikerinos e a Fenix. O governador de Gizé quase queimou as asas. Ihab Ali, o coordenador do Comitê Popular de Imbaba, lançou uma campanha popular para que as autoridades recolhessem o lixo da localidade em que vivem um milhão e meio de pessoas. Os dejetos estavam na rua porque o orçamento para recolher o lixo ficavam nos bolsos dos funcionários. Ihab Ali mostra o resultado da campanha: “em uma semana o governador limpou o lixo. As pessoas perderam o medo, já não temem reclamar os seus direitos, não se sentem só como antes, mas numa dinâmica de coletividade”.

É a ação social direta, de uma eficácia tão acertada como um estudo de mercado. No total hoje há pouco mais de 30 comitês populares no país que funcionam com o mesmo princípio: a autogestão nos bairros, a resolução dos problemas de limpeza pública, da luz, da água potável, da saúde, da educação, do transporte, da segurança. Os comitês repetem uma mensagem sem fim: “temos de conseguir que as pessoas saibam que têm direitos, que podem dispor deles”, disse Ihab Ali. A demonstração de suas palavras está num cartaz de uma campanha recente: “teus direitos não virão até você, toma-los!”.

Os militantes dos comitês são jovens, amiúde oriundos da esquerda radical, que de cara apoiam nas próximas eleições. São eles que, junto ao Movimento 6 de Abril, orquestraram uma pesquisa nacional para denunciar os candidatos do PND, o Partido Nacional Democrático, do presidente deposto Hosni Mubarak. Muitos dos membros desse partido vestiram uma máscara com a intenção de se apresentarem candidatos nas eleições legislativas de novembro, em outras listas partidárias. “Vigiamos com lupa para que o processo democrático não volte a ter os mesmos protagonistas da ditadura”, explica Tarik Khouli, um dos dirigentes do Movimento 6 de Abril.
Junto aos comitês populares e aos partidos tradicionais de esquerda, como o Hizb ala-Tagammo, ou de centro, como o Hizb Al-Adl, surgiram formações da esquerda socialista e da esquerda anarquista e radical. O Partido Social Democrata se criou com a Revolução da Praça Tahir e em maio passado surgiu o Movimento Socialista Libertário, MSL, cuja ambição consiste em atrair os votos da esquerda oficial e agregar a esquerda anticapitalista. Mas a base da ação são os Comitês Populares. Esses órgãos não fazem política, mas se ocupam com as pessoas, percorrem os bares para explicar às pessoas, num tipo de função pedagógica eloquente, para explica-las que sim, elas têm direitos, que viver não é só calar a boca, que a água, a segurança ou a educação são administradas pelo Estado e que é ao Estado que se deve vigiar. O comitê popular do bairro de Hadayeq el Cuba, a leste do Cairo, dedicou várias semanas a explicar aos cidadãos o que era um muçulmano, o que é o liberalismo, a social democracia ou a economia de mercado. Uma pérola de consciência e laço social.

A transição egípcia tem dois andares: o de cima, onde acontecem as negociações e as alianças entre os partidos, e o das ruas, aqui mesmo nos povoados de Alexandria e do Cairo, em Imbaba, subúrbio desfeito do lixo que o inundava sem que um só partido político se atrevesse a fuçar nas ruas. O governo popular a limpou.

Tradução: Katarina Peixoto
Transcrito de Carta Maior