14/03/2012

em viagem... e um pouco de 'dala'

Em viagem desde o dia 09, sexta. Em retiro, acolhido pelas montanhas das Minas Gerais. No caminho do campo. Desde então, somente postagens previamente programadas para publicação: poemas, literatura, vídeos (música, cinema). 
A partir do dia 23 é que estarei em condições de acompanhar e editar temas e fatos locais, nacionais e globais. Mas, já que no meio da montanhas de Minas, um techo de meu "Dala", ainda não publicado:

"(...)Saíam de casa geralmente às cinco da manhã, chegavam à Usina, local frio e enfumaçado, às oito horas e só retomavam a viagem à tardinha. Ele aguardava do lado de fora, no terreno junto à rodovia e nas barracas, dentro da Usina só podiam entrar motoristas e funcionários, adultos enfim.
Quase doze horas espreitando e espreitando-se, jogando-se no (e jogando com o) tempo inútil amontoado à sua volta, ele fazendo por ignorar a profusão de montanhas úmidas e verdes que envolviam-no, envolviam a Usina, com seus fornos e máquinas zunindo inacessíveis (para ele brilhantes e futuristas), com o sem número de caminhões e motoristas que iam e vinham; ele tentando fixar-se em máquinas, caminhões e pessoas de gestos apressados ou mecânicos ou indolentes, do que ter que

saber da solidão das montanhas
e compreender a prisão de Deus

compreender os espaços inabitados entre elas, montanhas e espaços inviolados sucedendo-se uns aos outros em olímpico mutismo, ele, ainda que não soubesse, achando-se extenuado por aquela mistura de humano e de divino que o agarrava de todos os lados. Impaciência, Impaciência.
E, vez por outra, também uma fome cômica, quando ele e seu pai ainda não sabiam de um restaurante nas proximidades da Usina, e ele tinha que se contentar com biscoitos, queijos e sanduíches surgidos melancólicos nas barracas.

De bom grado, então, ao entardecer ele se reacomodava na cabine, o desejo interrompido, mas conservado e talvez acrescido, de ganhar o asfalto como uma ave qualquer ganhava o espaço: percorrer, percorrer, em silêncio percorrer a terra estrada mundo, sabendo que o próximo ponto de descarga, e de espera, ainda estava longe, ainda estava depois da noite que se avizinhava. Na última encosta, de onde ainda se via a Usina, ele se voltava e ainda via a Usina. Apesar da demora, tristeza de despedida, mitigada pela quase certeza de que voltaria. Já escurecendo, ele se deitava no chão da cabine: um pouco de repousono.

Mas o desconforto e o cansaço ansiosos, que haviam se acumulado durante o tempo de espera fora da siderúrgica, voltavam, em menor grau é verdade, após as primeiras dezenas de quilômetros de subidas, descidas e curvas; ele sobressaltava-se, principalmente, com as curvas que pareciam puxar o caminhão agora pesado para fora da estrada, para os despenhadeiros que ladeavam a rodovia nas proximidades de Ouro Preto e Itabirito.

Tudo tornava-se, então, um misto de cansaço, medo e felicidade: a cadência gostosa e com um quê de poderosa do 1113 ocupando a estrada, o ronco acolhedor do motor que também aquecia o chão da cabine, a pergunta “pai, onde vamos jantar?”, formulada após algumas dúvidas sobre dormir ou não dormir, afinal dormir depois de um “vamo ver se a gente agüenta até o Água Limpa” (que ainda estava longe), adivinhando na noite as passagens velozes dos outros caminhões, ora vindo em sentido contrário, ora sendo arduamente ultrapassados pelo 1113, ora corajosamente ultrapassando o caminhão deles, roncando, bufando.

Sua consciência ingênua e sonhadora via algo como um gesto de solidariedade nesses encontros ruidosos sob o negrume frio, sua consciência frágil e perplexa via neles gestos de abandono e mútua indiferença; encontros e desencontros nebulosos, necessários."
(Roberto Soares, em "Dala", cap. 3) 

13/03/2012

o sal da língua

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém – mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extingue o seu lume
o seu lume breve.
Palavras que muito amei
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

eugénio de andrade  - portugal    (1923- 2005)

de lusofonia poética

12/03/2012

volver a los 17

um pouco de memória, resgatando esse clássico  de nuestra américa, neste admirável encontro entre a doce guerreira argentina  mercedes sosa milton,  o menestrel maior das minas gerais.

um pouco mais desse encontro entre minas e a latinoamérica, extraído do wikipedia (destaques meus):
"Habitualmente de costas para a música de “nuestros hermanos” latino-americanos, o Brasil começou a despertar para a riqueza da voz de Mercedes Sosa em 1976, após um dueto da cantora argentina com Milton Nascimento. A faixa “Volver a los 17″, da compositora chilena Violeta Parra - de quem Mercedes foi uma das principais intérpretes -, virou um dos maiores destaques do hoje clássico álbum “Geraes”. A partir daí, a barreira da língua não mais impediu que brasileiros se apaixonassem pelo marcante timbre de contralto de Mercedes Sosa e por seu repertório, que incluía desde canções folclóricas a músicas de conteúdo político e social.
"
e pensar que o fantástico da rede bobo já ofereceu magias assim ao seu público, em pleno domingo à noite.
depois do vídeo,  a letra da música, em espanhol e português. lembrando que a autora da música é a chilena  violeta parra e não mercedes sosa.

Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a dios
Eso es lo que siento yo en este instante fecundo.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Mi paso retrocedido cuando el de usted es avance
El arca de las alianzas ha penetrado en mi nido
Con todo su colorido se ha paseado por mis venas
Y hasta la dura cadena con que nos ata el destino
Es como un diamante fino que alumbra mi alma serena.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber
Ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento
Todo lo cambia al momento cual mago condescendiente
Nos aleja dulcemente de rencores y violencias
Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

El amor es torbellino de pureza original
Hasta el feroz animal susurra su dulce trino
Detiene a los peregrinos, libera a los prisioneros,
El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño
Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

De par en par la ventana se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto como una tibia mañana
Al son de su bella diana hizo brotar el jazmín
Volando cual serafín al cielo le puso aretes
Mis años en diecisiete los convirtió el querubín.

(violeta parra - chile)

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Voltar aos dezessete depois de ter vivido um século
É como decifrar sinais sem ser sábio competente
Voltar a ser de repente tão fragil como um segundo
Voltar a um sentir profundoe como uma criança ante Deus
Isso é o que sinto eu neste instante fecundo

Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.

Meu passo retrocede quando o teu avança
A arca das alianças penetrou em meu ninho
Com todo seu colorido tem passeado por minhas veias
E até a dura cadeia com que nos prende o destino
Como um diamante fino que ilumina minha alma serena

Vai se envolvendo, se envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.

O que pode o sentimento, não tem conseguido o saber
Nem o mais claro proceder, nem o maior pensamento
Tudo o muda no momento qual mago condescendente
Nos afasta docemente de rancores e violências
Só o amor com sua ciência nos torna tão inocentes

Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.

O amor é um torvelinho de pureza original
Até o mais feroz aminal sussura seu doce trinar
Detém os pergerinos, liberta os prisioneiros
O amor com seus esforços ao velho torna criança
E ao mau só o carinho lhe faz puro e sincero

De par en par la ventana se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto como una tibia mañana
Al son de su bella diana hizo brotar el jazmín
Volando cual serafín al cielo le puso aretes
Mis años en diecisiete los convirtió el querubín.

Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.

De par em par a janela se abriu como por encanto
Entrou o amor com seu manto como uma frágil manhã
Ao som de sua bela alvorada fez brotar o jasmim
Voando que nem serafim ao céu lhe pôs brincos
Meus anos em  dezessete os converteu o querubim

tradução: roberto soares

10/03/2012

as palavras dormem

Amiúde no vale dos afetos ninguém está seguro: míngua a lembrança, esquece-se o rosto, retorna-se ao eu, os lábios secam, as palavras dormem, os sonhos dispersam-se, a presença ausenta-se, há o lago de que não se vê o fundo. E apenas as pequenas ilusões - um café, o cigarro, a limonada - imitam dois corações unidos...
raul de carvalho - portugal




do blog  abro páginas

08/03/2012

jardim tropical: passeata contra a 'celebração' da morte e da barbárie

No sábado próximo acontece uma passeata de protesto em Jardim Tropical, bairro de Serra, ES. O motivo é a polêmica morte do adolescente Andrew Henrique Barroso Santos, ocorrida em 27 de fevereiro. Policiais afirmam que o garoto foi morto em razão de estar armado e enfrentando os agentes. Já moradores, testemunhas e parentes afirmam que Andrew foi simples e friamente executado pelos policiais (detalhes aqui).  
O caso está sendo investigado, mas entidades e movimentos sociais não têm nenhuma dúvida de que foi mais um dos brutais excessos de uma polícia cada vez mais despreparada, autoritária e brutal, e isso não penas em termos do Espírito Santo, mas em nível nacional.

Aliás, um pouco desse despreparo e dessa arrogância podem ser conferidos na página Facebook da ROTAM, na qual militares, familiares destes e simpatizantes dessa espécie de 'limpeza' social manifestavam seu apoio e sua aprovação aos policiais, alguns até mesmo celebravam o ocorrido, inclusive com xingamentos e ofensas ao jovem falecido e aos ''bandidos" em geral - pelo que pesquisei, tiraram do facebook a página  ofensiva, parece que até o Ministério Público estadual está investigando; de qualquer forma é possível conferir algo das mórbidas e doentias 'celebrações' em  gazeta online.
**********************************
Na realidade, esse tipo de manifestação, como no facebook da ROTAM, pode até assustar e preocupar, mas não deve surpreender, em tempos de perda de valores e de fragmentação da vida social. Afinal, se estão confusas, assustadas ou amedrontadas, a maioria das pessoas tende a propor ou exigir soluções simplistas - mesmo que brutais e desumanas - para supostamente dar fim às contradições e conflitos sociais, brotados do atual modo de organização econômica.

E, obviamente, que para as forças que sustentam essa organização (e se beneficiam dela) é extremamente interessante que as camadas populares e médias se digladiem, se hostilizem. Isso ajuda a desviar a atenção das verdadeiras causas das contradições, opressões, violências, além de tornar os cidadãos cada vez mais apáticos com relação a outras demandas sociais tais como saúde, educação e transporte dignos.
Afinal, o que interessa em primeiro lugar é se salvar da insegurança geral, mesmo que para isso as assustadas populações tenham que apoiar brutalidades e execuções.

Ora, se isso é previsível em se tratando das pessoas em geral, o que esperar daqueles que estão diretamente envolvidos na tarefa da reprimeir resistências e descontentamentos com as scontradições do sistema? O que esperar de policiais e de seus familiares e amigos?  
A reação exibida nas páginas da ROTAM apenas escancara, mais uma vez, como as próprias forças da repressão são envolvidas no clima de insegurança geral e de barbárie, ignorada ou até emsmo estimulada pelos beneficiários do sistema - cai o mito da neutralidade das forças da 'segurança pública'.

Ainda quanto aos acontecimentos em Jardim tropical, leia  a  Nota Pública da CJP .

Sobre a passeata de sábado em Jardim Tropical, acompanhe em: http://www.facebook.com/events/186415168134964

nota da cjp: violência policial naS periferias

NOTA PÚBLICA CJP

A MORTE RONDA OS BAIRROS POPULARES

A Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória, ciente dos valores que inspiram a sua presença no seio da Igreja e da sociedade capixaba, vem a público manifestar o seu pesar pela morte do jovem Andrew Henrique Barroso Santos, e lastimar o infortúnio dos moradores feridos à bala em decorrência da ação da Polícia Militar, no último dia 27, no bairro Jardim Tropical, município da Serra.

Em sua missão institucional de defesa da vida, da dignidade humana, da Justiça e Paz, a CJP condena a situação de violência permanente das ações policiais em nosso estado, e energicamente se opõe a práticas que promovem a resolução de conflitos pelas próprias mãos, utilizando meios sumários, sem o amparo legal e à revelia da Justiça.

A CJP se solidariza com as famílias e a comunidade de Jardim Tropical, e conclama a sociedade capixaba a avançar na conscientização e a desencadear ações que possam mudar a realidade de morte, somando os seus esforços aos da Campanha Contra a Violência e o Extermínio da Juventude em nosso estado.

07/03/2012

manifesto: contra o 'socialismo' para poucos

O Manifesto abaixo chegou através de um leitor de Minas. Parece que está circulando na internet há certo tempo.
Não traz indicação de quais pessoas  ou entidades estão articulando essa mobilização e, o que é mais importante, muito menos explica ou propõe como se dará a continuidade dessa suposta mobilização.
Além disso, é um tanto ou quanto tosco, para um documento que se pretende apresentar como Emenda constitucional, Iniciativa de Lei Popular, ou algo assim.

Mas, com relação ao mérito, é extremamente interessante. É algo pelo qual as entidades, movimentos sociais, sindicatos, as redes sociais (e até mesmo alguns partidos de fato comprometidos comuma demcoracia real - não custa acreditar que eles ainda existem) já deveriam estar se mobilizando há muito tempo. 

Afinal, já deveria estar morta e enterrada essa aceitação do político e da política como profissão e, pior, como profissão eivada de vergonhosos privilégios, regalias, obscuridades. Essa cretinice já deveria ter acabado, o país é a 6ª economia do mundo, é governado por um partido de centro esquerda, estamos no terceiro milênio e ainda temos que engulir esse espetáculo deprimente, ofensivo, que são os políticos colocando-se acima da cidadania, acima do homem comum.

Não se trata apenas de fazer o enfrentamento contra os  políticos corruptos, incompetentes, manipulado  e manipuladores, corporativistas etc etc etc (claro, até onde é possível fazer, com realismo, esse enfrentamento nos limites da democracia formal capitalista). Trata-se de avançar para além dessa luta por partidos e políticos minimamente comprometidos com a  coisa a pública (claro, até onde se pode ter esse compromisso dentro da limitada democracia formal capitalista).

Trata-se, na verdade, de desmistificar de vez essa postura que vem lá dos tempos do Brasil colônia, que é a de ver e aceitar os  políticos, os governantes, os militares, os governantes, as polícias de todo tipo, juízes e desembargadores (mais do que todos) e uma grande parcela dos funcionários públicos como castas à parte, como cidadãos superiores aos demais, pelo simples fato de estarem a servir ao poder público, pelo simples fato de se se considerarem 'autoridades', com variavéis grau de arrogância, presunção, autoritarismo e, para usar a expressão da Dilma, com variavéis graus de 'malfeitos'.

Desse ponto de vista, a mobilização sugerida por esse Manifesto pode ir além da questão dos privilégios dos políticos, pode ser um começo dessa desmistificação das 'autoridades' deste país, e também  o começo de uma definição mais clara da postura e sdas obrigações dos servidores da coisa pública.

Afinal, se querem granjear de fato a cosnideração dos cidadãos e contribuintes, que o façam através de seu desempenho e de seu respeito à coisa pública e às pessoas.
E não através de suas patéticas, presunçosas e revoltantes posturas de arrogância e de negligência, como se vivessem num mundo à parte, como se existisse um país socialista direcionado somente para eles. Total segurança, nenhum risco de perda de emprego ou de catgos, nenhum controle popular, toda proteção das leis em termos de salários, benefícios, asssitência  e previdência. Um verdadeiro socialismo para poucos. 
Segue abaixo  o Manifesto. Quem achar pertinente, atenda às solicitações de enviar para vinte ou mais de seus contatos

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MANIFESTO

Peço a cada destinatário para encaminhar este e-mail a um mínimo de vinte pessoas em sua lista de endereços, por sua vez, pedir a cada um daqueles a fazer o mesmo. Em três dias, a maioria das pessoas no Brasil terá esta mensagem. Esta é uma idéia que realmente deve ser considerada e repassada para o Povo.

Lei de Reforma do Congresso de 2012 (emenda da Constituição do Brasil)

1. O congressista receberá salario somente durante o mandato. E não terá direito a aposentadoria diferenciada em decorrência do mandato.

2. O Congresso contribui para o INSS. Todo o fundo (passado, presente e futuro) atual no fundo de aposentadoria do Congresso passará para o regime do INSS imediatamente. O Congressista participa dos benefícios dentro do regime do INSS exatamente como todos outros brasileiros. O fundo de aposentadoria não pode ser usado para qualquer outra finalidade.

3. Congressista deve pagar para seu plano de aposentadoria, assim como todos os brasileiros.

4. Congresso deixa de votar seu próprio aumento de salário, que será objeto de plebiscito.

5. Congressista perde seu seguro atual de saúde e participa do mesmo sistema de saúde como o povo brasileiro.

6. Congressista está sujeito às mesmas leis que o povo brasileiro.

7. Servir no Congresso é uma honra, não uma carreira. Parlamentares devem servir os seus termos (não mais de 2), depois ir para casa e procurar emprego. Ex-congressista não pode ser um lobista.

8. Todos os votos serão obrigatoriamente abertos, permitindo que os eleitores fiscalizem o real desempenho dos congressistas.

Se cada pessoa repassar esta mensagem para um mínimo de vinte pessoas, em três dias a maioria das pessoas no Brasil receberá esta mensagem.
A hora para esta emenda na Constituição é AGORA.


É ASSIM QUE VOCÊ PODE CONSERTAR O CONGRESSO. Se você concorda com o
exposto, REPASSE. Você é um dos meus + 20. Por favor, mantenha esta mensagem CIRCULANDO.

05/03/2012

femen: força e feminilidade de verdade

já são bastante conhecidas as performances descontraídas, mas incisivas, das mulheres do grupo ativista femen, da ucrânia. desta feita, o protesto foi contra o fútil e opressivo mundo da moda, e aconteceu num das cidades que é um símbolo desse universo - milão, na itália   
muito interessante o contraponto: o depojamento (literal) das ousadas e corajosas garotas,
confrontando todo o aparato que veste e submete as modelos, sejam famosas ou anônimas.
as garotas do femen acertaram em cheio ao ligar o mundo da moda ao fascismo. o fascimo tipicamente capitalista: uma indústria e um comportamento que impõem a mulheres e homens necessidades, carências e posturas, sem as quais todos viveriam muito bem. tudo se torna mercadoria, até a feminilidade das mulheres é usada para vender essas falsas carências.
com certeza que uma ou outro modelo, vendo essas imagens, pode até ficar deprimida, se conseguir captar a imensa diferença de seu projeto de vida e de seu sentido existencial, em relação a essa tarefa corajosa e libertária  assumida pelas militantes.

a diferença de projetos e de sentido:  as modelos fabricadas pela fascista indústria da moda inventam glamourosos personagens para a platéia e para si próprias, talvez acreditando realmente na profundiade desses patéticos  papéis, com aqueles olhares distantes e perdidos no horizonte a nos sugerir mulheres intangíveis, misteriosas, profundas   (que na verdade quase nos enganam).
ao passo que as mulheres do femen simplesmente se expõem numa nudez não apenas física, sensual ou erótica. mas com uma fragilidade e uma vulnerabilidade que comovem, e que realizam uma dupla contestação: além de protestar contra o tema do momento, a sua própria forma de protesto é também uma contestação à repressão que existe em torno da questão do corpo, da sexualidade e da fruição erótica por aprte de homens e mulheres.

o despojamento do femen  faz cair por terra todo esse aparato da moda do mundo 'fashion', que alimenta essa repressão  e essa manipulação de corpos e desejos - e também se alimenta delas.
mas, ccomo não poderia deixar de ser, uma rsessalva: por que o grupo femen recruta somente mulheres belas, envolventes atraentes, que mais parecem modelos, as mesmas modelos criticadas por elas no desfile de milão e aqui nesta postagem? porque não recrutam também mulheres com aparência menos vistosa e deslumbrante (vistosas e deslumbrantes do ponto de vista de nossa cultura ocidental, claro) mulheres comuns, que formam de fato a maioria da humanidade?

Tornando-se seletivas em relação à aparência estão jogando o jogo do sistema, o jogo do marketing, ou seja, estão aassumindo que para seus protestos terem de fato sucesso, audiência ou eficiência, é preciso que tenham  que oferecer sempre atratividade  física, ou seja, nesse aspecto utilizam a mesma tática da fascista indústria da moda. ou será que na ucrânia só tem mulheres assim, com esse biotipo? então recrutem em outros países, afinal, um pouco de diversidade só faria o femen ganhar.

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por uma dessas gratas coincidências da vida, no mesmo dia em que terminei de redigir essa postagem, tomei conhecimento das deliciosas fotos abaixo, também do grupo Femen. 
Trata-se de uma coletiva para a imprensa, realizada em Viena, Áustria, com   presença das militantes Alexandra e Inna Shevchenko.Durante a coletiva as militantes mostraram como se preparam  para os seus protestos. Registre-se a candura e a naturalidade com que as ucranianas encaram a sua tarefa.

Mais uma vez: como é diferente e mais envolvente essa simplicidade e esse depojamento das militantes do Femen, em relação ao aparato midiático e à produção estética e comportamental, montados em volta dos desfiles das modelos e celebridades.

Mais uma vez: as modelos e celebridades deveriam ficar um pouco deprimidas se conseguirem entender a distância que as separam das garotas do Femen.  




todas as imagens desta postagem extraídas de folha online

03/03/2012

pedro bial no paredão 2

Este cordel já rola na internet há uns três anos, salvo engano. Já deve ser sobejamente conhecido, mas de qualquer forma vai como mais uma 'homenagem' ao sorridente apresentador do BBB.
E, para quem ainda não leu, veja pedro bial no paredão 1.
Veja também cerco à rede globo.

Cordel do BBB
por Antonio Barreto, cordelista de Santa Bárbara-BA

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.


Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.


Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.


Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.


Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.


O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.


Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.


Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.


Respeite, Pedro Bial,
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dá muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.


Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.


Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.


A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.


Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.


Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.


É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.


Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.


A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.


E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.


E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.


E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.


Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.


Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?


http://barretocordel.wordpress.com/

01/03/2012

serra da piedade: o impiedoso e estúpido capital

Apesar da seriedade do tema, não dá para resistir ao trocadilho:  a impiedosa Vale agora dirige suas implacáveis baterias contra a Serra da Piedade, que tanto significa para os mineiros.

Mais uma vez a história se repete: em nome do crescimento, da distribuição de renda, da gloriosa marcha do homem sobre a terra etc etc, dentro de alguns anos talvez a gloriosa, eficiente e impiedosa (e fraudulentamente privatizada) Vale brinde as Minas Gerais com mais algumas das mesmas crateras e dejetos que deixa em Itabira, dessa vez na Serra da Piedade.

Não bastasse Minas ser a terra que alimenta de ferro as usinas de aço do país e do mundo inteiro, agora até os seus santuários culturais e naturais estão ameaçados. E o patético de tudo isso é que, além de o governo brasileiro permitir que o minério de Minas vá embora à custa da degradação ambiental e social, quase nada desse lucro fica no país, pois todos sabem que o grosso do lucro da Vale vai para seus dirigentes e acionistas estrangeiros.

Este é mais um exemplo gritante de que é urgente a luta para extirpar do planeta a doença deste capitalismo tardio e insano, e em seu lugar irradiar a saúde sobra terra inteira, tal como prega o lema da Campanha da Fraternidade deste ano (leia aqui), para que parem debrotar, na face da terra e na jornada da humanidade, tantas crateras e dejetos.
A denúncia abaixo vem sendo divulgada pelo SOS PIEDADE .

**************************************************
VALE S/A, PIOR CORPORAÇÃO DO MUNDO, QUER MINERAR
ATÉ A SERRA DA PIEDADE
 
A Serra da Piedade se destaca na paisagem, na formação e na história de Minas Gerais. Ao longo de quase trezentos anos, centenas de milhares de visitantes, desde humildes romeiros e ilustres viajantes como Saint-Hilaire, Spix, Martius e outros subiram ao seu cume, louvaram Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Minas Gerais, exercitaram a fé e encantaram-se com suas belezas e o horizonte que dela se avista, repleto de outras serras. Nos séculos XX e início do XXI, seus notáveis atributos culturais, históricos, culturais e religiosos justificaram a implementação de medidas de proteção e tombamento, nas esferas federal, municipal e estadual. O Conjunto Paisagístico da Serra da Piedade é Monumento Natural de Minas Gerais desde a Constituição de 1989 e patrimônio do Brasil desde 1956 – resultado dos esforços de Frei Rosário Joffily, antigo reitor do Santuário.
 A implantação do projeto Caminho Religioso da Estrada Real: de Padroeira a Padroeira,que consiste num roteiro integrado de turismo religioso, envolvendo 86 municípios, entre os santuários das padroeiras de Minas Gerais e do Brasil – Nossa Senhora Aparecida, já está em curso e trará maior visibilidade ainda à relevância do lugar sagrado que é a Serra da Piedade.

Recentemente tomamos conhecimento que a Vale S.A. entrou, em junho de 2011, com mandado de segurança preventivo com pedido de liminar, junto à Justiça Federal em Brasília, para que o IPHAN retrocedesse na ampliação do tombamento federal, pois seus interesses minerários estavam sendo prejudicados com essa proteção à Serra da Piedade. No entanto, a única mina da Vale nessa região , a Córrego do Meio, já se encontra desativada há mais de seis anos, o que não justificaria tal pedido. Esta ação da Vale S.A. é uma grave ofensa a Minas Gerais e a todos aqueles que acreditam que o nosso patrimônio deve ser resguardado de outros interesses que não os do povo brasileiro.
 
A manutenção integral de bens como a Serra da Piedade, depositários da identidade de sua gente, não deve ser ameaçada por ninguém, muito menos por uma empresa que não possui legitimidade para tal, mesmo que se firme em artifícios pretensamente legais, mas não morais e éticos. É inacreditável que até a Serra da Piedade esteja na mira da agressividade da Vale S.A. em ocupar espaços e territórios.
 
A empresa mostra na mídia uma imagem de “responsabilidade social corporativa”, em propagandas bem elaboradas, e atua de forma marginal para poder fazer valer os seus interesses. Se esta empresa não respeita nem a Serra da Piedade, o que fará com as Serras da Calçada, Moeda, Rola-Moça e Serrinha, com Congonhas, Mariana, Patrocínio e com o norte de Minas? Neste momento, sua ganância desmedida pela Serra do Gandarela, última grande área preservada da região metropolitana de Belo Horizonte e do quadrilátero ferrífero, depositária de riquíssima biodiversidade, paisagens e águas, leva a Vale S.A. a fazer tudo para que o Parque Nacional da Serra do Gandarela, proposto pelo ICMBio em outubro de 2010, não seja criado ou que seja totalmente mutilado na sua proposta original.
 
Esta é a verdadeira face da Vale S.A., herdeira de uma privatização contestada. Em sua busca de lucros crescentes a empresa impacta significativamente o meio ambiente, avança sobre territórios com condições socioambientais vulneráveis, desconsidera as reivindicações e acordos firmados com comunidades afetadas, nega direitos de pessoas que trabalham para ela e desrespeita a legislação, segundo a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale. Por isso foi eleita, em janeiro deste ano, a “pior corporação do mundo” (Prêmio Public Eye Awards), através de votação mundial pela internet.
 
Tentar retroceder conquistas legítimas da coletividade, como o tombamento histórico e paisagístico da Serra da Piedade, é exemplo claro de que a Vale, nascida em Minas Gerais, com todo o seu discurso de emprea "verde-amarela", não respeita um dos mais importantes referenciais paisagísticos e culturaos de nosso Estado e, assim, seu lema institucional regional "Se é importante para Minas, é importante para a Vale" reflete uma mentira!

Minas Gerais, 7 de fevereiro de 2012
SOS SERRA DA PIEDADE

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Quer saber mais?
1. A Vale S/A não respeita a Serra da Piedade http://www.sendspace.com/file/7scvy2
2. Serra da Piedade: Berço da Padroeira de Minas Gerais, Brasil. Beleza, religiosidade, proteção e ameaças : http://www.sendspace.com/file/8tbdkv

vídeo: quem são os piratas da somália?

Chega a ser chocante conhecer o que acontece de fato na Somália.
Mas, ao fim, é apenas mais uma demonstração inequívoca de onde vem realmente o roubo de vidas e destinos, a pirataria das dádivas da natureza e, principalmente, é uma demonstração clara de onde vem a doença que vai minando aos poucos a humanidade e o próprio planeta (veja aqui o texto sobre a CF e a saúde)

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vídeo: piratas , o outro lado da história

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Claro que, em se tratando de  questões políticas e sociais, o serviçal da ordem Arnaldo Jabor não pode e não deve ser fonte legítima de informação e de reflexão para ninguém. mas como nesse específico da Somália, ele não diz presunçosas inverdades e distorções, Desvelar abre uma exceção e publica essa sua fala, como forma de complementar a  credibilidade do vídeo sobre a Somalia. afinal, se até o presunçoso, 'elitizado' e raivoso (contra tudo o que é luta popular) Jabor se comove, é porque o caso é realmente dramático. assim, quem ainda tiver estômago que escute o sujeito aí embaixo:

cf 2012: extirpar a doença do planeta

No dia 22 de fevereiro,  os católicos adentraram no seu tempo sagrado por excelência, o tempo da Quaresma. É tempo de renascimento, ou preparação para o renascimento que se dará durante a Pàscoa. É também tempo do recolhimento e de experimentar a transcendência, tendo como inspiração os dias que o Cristo vagou no deserto antes de sumir de fato a sua tarefa no mundo, na história e, para os católicos, uma tarefa essencial para o próprio Cosmos, ou para o próprio Espírito deste Cosmos. 
(veja também Poemas para Deus)

a Campanha da Fraternidade 2012, em frente à Escadaria Messina,
próxima ao Parque Moscoso 

Mas, para grande parte dos católicos (felizmente) a Quaresma não é somente tempo de recolhimento e de transcendência. É também tempo de engajamento e  de imanência, tempo de caminhar e agir no mundo, tempo de reafirmar o compromisso de se construir o Reino neste mundo terreno e não em algum vago, intangível e misterioso lugar do Cosmos.

Esse compromisso se dá todo ano, no primeiro domingo após o Carnaval, ou no primeiro domingo da Quaresma, com a abertura da Campanha da Fraternidade. Este ano a CF teve como tema Fraternidade e Saúde Pública, refletindo a luta dos católicos progressistas por uma saúde pública e digna para todos. (mais informações sobre as propostas da CF 2012 e sobre  os desafios e avanços da saúde pública no Brasil, veja na página da cnbb)

a grande cruz de pano, ladeada pelas menores que representam as vítimas do descaso com a saúde do povo por parte dos governantes cretinos - cada mulher segura uma placa como o nome de uma dessas vítimas 
nas proximidades do Viaduto Caramuru, mais uma parada da Via Sacra,
que este ano retratou a crucificação do Cristo como sendo a crucificação e o
 martírio dos adoentados que padecem humilhações, descasos e abandonos

ainda nas proximidades do Caranmuru. ainda sob um forte calor, o mar de gente insiste em participar da via sacra de um povo que, embora sofrendo as agruras de uma saúde pública
precária e humilhante,  se nega a se entregar à doença da descrença e da apatia,
do consumismo e da competição


aliás, o lema da CF deste ano, "Que a saúde se difunda pela terra inteira (Eclo 38,8)", leva inevitavelmente a uma simbologia maior, remete a um compromisso global. Afinal, é a saúde da humanidade e do próprio planeta que está em jogo, com a consolidadação da bárbarie e da irracionalidade provocadas pelo capitalsimo atual. um capitalismo que já cumpriu o seu papel histórico na jornada da humanidade, mas que hoje é apenas uma manifestação doentia, obsoleta, irracional e, no entanto, cada vez mais perigosa, armada e brutal.

Assim, difundir a saúde na terra inteira significa, antes de qualquer outra coisa, acabar com a doença do capitalismo que aí está,  curar a humanidade de sua dependência e  de sua opressão, de sua sonolência e de sua anestesia, provocadas exatamente  por esse mesmo capitalismo doentio, tardio, intoleravelmente desumanizador.

a caminhada chega á praça da Catedral, com o prédio do Fórum Criminal á esquerda. bem simbólico: para se conquistar a saúde para as  pessoas e para o planeta, é preciso antes construir uma justiça popular, descontruindo esse aparato judicial que, ao mesmo tempo em que se alimenta da ordem injusta e doentia, é também um de seus seus mais arrogantes e dissimulados sustentáculos

27/02/2012

elisa lucinda, carnaval, futebol capixaba e o calor absurdo...

A Escola de samba Boa Vista foi a campeã do Carnaval capixaba deste ano - em Vitória, os desfiles acontecem uma semana antes. O samba enredo da escola fazia uma homenagem à poetisa e atriz capixaba Elisa Lucinda, nascida em Cariacica, mesma cidade da Boa Vista.

Vai o poema  abaixo como uma lembrança do momento - e por ser bastante apropriado para essa época do ano. Gosto do poema pela seu indelicada postura de honestidade, pela sua rasgada afronta ao politicamente correto. Afinal, não é todo dia, nestes tempos de plástico, que vemos poemas escrachadamente relacionar judeus a calores infernais - o que imediatamente remete a campos de concentração - execrar a atmosfera da 'cidade maravilhosa', lamentar a companhia de  zé pagodinhos.

E gosto também pela sua inconformada diatribe contra a estúpida impiedade do calor que se apossa do país por essa época. E que, parece, vai se tornar cada vez mais impiedoso, onipresente e planetário ao longo das próximas décadas - será que de fato seremos todos assados e 'gratinados' aos poucos?   

au gratin

fumo um cigarro fino
como um palito
o calor do Rio é ridículo
calor de chuva enrustida
calor do céu oprimido
de inferno mar resolvido
que não sabe se queima esse cara
ou o assa ao ponto
um calor filho da puta
um calor de estufa
e eu sem nem ser judia
sofro aos pouquinhos
sofro esse zé pagodinho
ardo nesse pecado que não cometi
nesse forno onde me meti
por uma apimentada dica
de um nordestino
que me mostrou uma placa citada, tinhosa:
"CIDADE MARAVILHOSA"

Eu vim.

elisa lucinda - espírito santo
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Ainda a propósito do Carnaval capixaba, talvez seja a hora de rever essa preocupação da Liga em realizar antecipadamente os desfiles de Vitória, por temer que se perca audiência por causa dos desfiles de Rio e São Paulo. Afinal os desfiles têm sido muito procurados, não falta vibração nas arquibancadas e as Escolas têm cativado o público e os seus torcedores.

E a paixão do capixaba pelo samba é autêntica, não obedece a modismos a ou a influências de televisão e  de outras mídias. Para se ter uma idéia dessa relação viva e carinhosa do capixaba com o samba autêntico e multifacetado, basta acompanhar, por exemplo, as animadas e populares apresentações de Edson Papo Furado pelos bares do Centro de Vitória, acompanhado pelo pessoal dos morros adjacentes (Fonte Grande, Piedade, Moscoso) e por muitos outros sambistas, inclusive pela promissora Fabíola Santos.

Não é uma relação alienada como no caso do futebol, na qual os capixabas parece que vibram mais do que os próprios cariocas com os grandes times do Rio de Janeiro. Nada contra, não é birra de torcedor do Galo mineiro. Ocorre que muito desse apoio e dessa vibração deveria ser dado ao próprio futebol local, que há décadas atola-se no ostracismo em termos de participação em competições de nível nacional.

E muito da cobertura e do incentivo, que  a mídia local dá ao futebol de fora, deveria ser direcionado para que os torcedores capixabas se envolvessem mais com os seus times,  com o objetivo a médio ou longo prazo de ter um ou mais times ao menos na segunda divisão do cameponato brasileiro. Enfim, a relação do capixaba com o futebol tem tudo para  ser mais autêntica,  com mais senso de identidade e  de pertencimento. Tal como ocorre com  a sua relação com o carnaval e com o samba. 
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Aliás, a mídia capixaba é muitas vezes provinciana, bairrista e com complexo de inferioridade. É um tal de jornalistas, colunistas e publicitários  colocarem em jornais que as mulheres capixabas são as mais bonitas do Brasil, que as praias capixabas são as melhores que existem, e por aí afora. Como se afirmações assim pudessem ser de fato aferidas, e como se isso fosse de fato importante na vida de um povo.

Mas, pelo menos no caso do samba e do Carnaval do ES, a mídia pode e deve realmente exaltar cada vez mais,  ajudando a construir uma percepção de que o carnaval daqui pode se mostrar de igual pra igual com Rio, São Paulo, Salvador, Ouro Preto, Olinda etc.

E que venha o próximo verão, com 'gratinados', carnaval, escolas de samba, desfiles de blocos na Jerônimo Monteiro e tudo o mais ... - que venham até mesmo as onipresentes partidas do campeonato carioca pela tevê.    

24/02/2012

genesis, de dante ixo

uma balada no estilo do velho e bom rock and roll.uma atmosfera contemporânea, com um quê de desamparo, mas ao mesmo tem-
po envolvente, ou melhor, que comove com seu romantismo
despojado e  ao mesmo tempo descarado, assumido. nestes
tempos de fragmentações e urgências, é bom se deparar de
vez em quando com trabalhos assim,  fazem  falta -
simples e fortes, honestos e expressivos. 

às vezes, quando a luz

as vezes, quando a luz cria ângulos inesperados
e te empurra de novo para a infância

e tu passas perto de uma mansão decadente
escondida por completo por salgueiros centenários

ou junto de um convento abandonado e guardado por abetos
e uma linha de pinheiros gigantes alinhados

percebes mais uma vez que por trás desse muro
debaixo da crespa cabeleira dos salgueiros

continua a existir um segredo
tão maravilhoso e perigoso

que se rastejares e o descobrires
podes morrer, ou então ser feliz para todo o sempre.
lisel mueller - alemanha  (1924 -  )

22/02/2012

o regresso

Como quem, vindo de países distantes fora de
si, chega finalmente aonde sempre esteve
e encontra tudo no seu lugar
o passado no passado, o presente no presente
assim chega o viajante à tardia idade
em que se confundem ele e o caminho.

Entra então pela primeira vez na sua casa
e deita-se pela primeira vez na sua cama.
Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças
cidades, estações do ano.
E come agora por fim um pão primeiro
sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.

manuel antónio pina - portugal
como se desenha uma casa, Assírio & Alvim, Lisboa, 2011

20/02/2012

a serpente

é por isso que cheguei a casa antes do previsto
e por isso subi as escadas
sigiloso
e é por isso que abri a porta
com a cópia da chave
que julgavas que eu não tinha
é por isso que viraste as costas
e me escapaste dos braços
com a destreza das trutas

é por isso que te passei uma rasteira
e caímos
os dois
ao chão
é por isso
que não fiz caso
quando entre risos me insultaste
é por isso que te desabotoei
os botões das calças
é por isso
que rocei os teus lábios
e tu abriste a boca
como se vão abrindo enquanto ardem
as rosas ou as bolas de papel

é por isso que apaguei a luz
é por isso que fiz tudo tão depressa:
para que não tivesses tempo
de preparar a tua defesa.

igor estankona - país basco (1977  -  )

18/02/2012

mil novecentos e cinquenta e três


logo no primeiro ano
estou só
e não me consigo manter de pé.

se suspeitasse sequer
que iria ser assim para toda a vida
não me riria
com estas gargalhadas
cristalinas.

amadeu baptista - portugal

(a foto acima é do próprio autor: http://www.blogger.com/profile/13873137814159518851)

16/02/2012

discurso de noivado após o jantar

Este eu, um recipiente, que
desde que ninguém o abra
parece compacto, liso
como um ovo Kinder
quase apetitoso. Somente lá
no interior, está escuro. Quem sabe
o que estará dentro, à tua espera.
Obsessões, sem dúvida
hábitos enferrujados
medos incompreensíveis
truques em segunda mão
desejos infantis.

Que tu a desejes ter
a esta prenda embrulhada
roça o milagre.

hnas magnus enzensberger - alemanha

14/02/2012

jirau continua explosiva: morre um trabalhador

Aproximadamente à 01 hora da madrugada de hoje o operário da Camargo e Corréia na Hidrelétrica de Jirau, Josivan França Sá foi atingido por um disparo nas proximidades da rodoviária do distrito de Jaci Paraná (Porto Velho). Jocivan, natural do município de Pedro do Rosário, no Maranhão, de 24 anos, estava trabalhando no canteiro de obras da Hidrelétrica de Jirau, onde teve a função de sinaleiro e ultimamente de armador de ferragens. Ele faleceu desangrado após receber um disparo que atingiu uma artéria no pescoço.

Jocivan, que estava alojado dentro do canteiro de obras de Jirau, durante o domingo tinha ido almoçar e lavar a roupa em casa de parentes. Segundo companheiros, ele não bebia e aquela noite tinha tomado somente uma garrafa de suco. Mais de 300 pessoas estavam esperando desde às 11 horas da noite a chegada dos ônibus do último turno, que não chegaram. Alguns ônibus que passavam pela estrada não quiseram parar. Revoltados alguns operários tentaram interditar com madeiras a BR 364. Chegou uma viatura da polícia, que mandou retirar as madeiras da estrada. Chegou uma segunda viatura e começou um confronto de trabalhadores com a polícia, que utilizou gás pimenta e teria atirado nos operários revoltados.

Segundo seus amigos, Josivan não participava do confronto e estava a uns cem metros do local onde estava a polícia quando caiu no chão atingido por um disparo. Diversas testemunhas recolhidas no local relatam que mais outro operário estava caído na chão e que por tanto foram dois os atingidos, porém não temos mais informações sobre o que aconteceu com o segundo atingido nem sobre a identidade dele. Ainda posteriormente a polícia utilizou balas de borracha contra os operários revoltados e outras pessoas resultaram feridas e sangrando. 
Jocivan com grupo de operários de Jirau
Diversos parentes de Jocivan moradores das proximidades foram avisados da morte dele. O corpo dele já teria sido liberado pelo IML e na Funerária Dom Bosco estava sendo preparado para ser enviado ao Maranhão.

Segundo testemunhas, o uso de gás pimenta pelos policiais contra operários é habitual, e os operários reclamam de ser agredidos pela polícia diariamente. Também é habitual acumular muitas pessoas para utilizar no último ônibus que passa em Jaci Paraná para o canteiro de obras. Este último domingo os ônibus somente chegaram depois do violento confronto.

A CPT e a Pastoral dos Migrantes tem repassado as informações para autoridades, Ministério Público Federal, Estadual e do Trabalho e jornalistas de Porto Velho. Existia temor de que por estes fatos uma nova revolta violenta tomasse conta do canteiro de obras da Usina de Jirau.

(divulgado por Rede Alerta contra o deserto verde e transcrito de cpt rondônia)