07/05/2009

resgate do primeiro de maio

(Texto relacionado: imagens do primeiro de maio )

Acima, algumas matérias e imagens para lembrar que o Dia do Trabalhador não se restringe apenas a shows e manifestações diversas, que têm cada vez mais um caráter institucional, de eventos patrocinados por empresas e órgãos governamentais. Nada contra o trabalhador receber uma justa homenagem no seu dia, a questão é refletir sobre o que implicam essas ‘homenagens’ patrocinadas por empresas e governos, com o aval de centrais sindicais de diversas posturas políticas.
A questão é saber até onde elas são uma conquista real e necessária, ou ao menos prioritária, ou se estão aí apenas como mais uma forma de neutralizar o potencial de mobilização e enfrentamento dos trabalhadores, na luta por suas demandas concretas, sejam demandas mais imediatas (tais como reposição de e perdas, redução da jornada de trabalho para 30 horas, pleno emprego etc) ou bandeiras de longo prazo, como a autogestão e a coletivização dos meios de produção.

E, o que é mais grave, a questão é refletir se tais ‘homenagens’ têm o prioritário objetivo de desmemoriar a classe trabalhadora, fazê-la esquecer, ou pior, fazê-la julgar como obsoletas e perigosas todas as suas lutas e aspirações de uma época não tão remota. Refletir se tais ‘homenagens’ visam, também, desqualificar a postura de resistência daqueles trabalhadores e movimentos que ainda acreditam numa forma diferente de os homens se relacionarem uns com os outros, principalmente em relação a uma nova forma de produzir suas necessidades, ou seja uma nova forma de trabalho, mais autônoma, mais livre, mais gratificante.

E essa reflexão se faz ainda mais oportuna, neste momento de profundos abalos no atual sistema de produção, com reais possibilidades de uma ruptura com os fundamentos políticos, jurídicos, sociais e culturais que dão sustentação a esse mesmo sistema. Afinal, é fundamental que se volte a pensar numa classe trabalhadora realmente mobilizada e plenamente consciente de seu papel nessa possibilidade de ruptura e superação do atual sistema; e isso seria extremamente perigoso para os grupos e indivíduos cujo papel e interesse é tentar manter o sistema funcionando, custe o que custar, ou melhor, às custas principalmente daqueles que são’ homenageados’ no seu dia: demissões, concessões às empresas, perda de direitos, tudo para se garantir a precária situação que já havia antes dos abalos no sistemas.
E tome festas, ‘homenagens’, entremeadas de discursos de lideranças trabalhistas a pregar um enfrentamento que nunca vem, no fundo um enfrentamento que, além de não estar nos planos das lideranças, também não atrai os assustados e conformados trabalhadores.

As manifestações, contidas nas matérias abaixo, são então uma prova de que, apesar da desmobilização e apatia geral, estão presentes movimentos e ações que ousam resistir e marchar contra a corrente.
Por outro lado, permanece como urgente e fundamental que se crie ações e linguagens que logrem atrair de fato a vasta maioria dos trabalhadores e cidadãos em geral, que permanecem apáticos, no fundo querendo acreditar que essa é apenas mais uma crise que será superada pela modernidade e competência do atual sistema de produção e, portanto, não lhes cabe preocupar-se com o desenrolar dos acontecimentos.

É urgente e fundamental convocar a todos e todas para abandonarem essa postura conformista e impotente de viver como se a história se desenrolasse num nível mais alto e mais complexo que o de suas vidas cotidianas, como se os destinos de cada um e cada uma não estivesse nas suas próprias mãos, e é preciso que seja uma convocação que não exclua nenhum setor, grupo ou categoria, que todos sejam convidados ou atraídos, seduzidos ou despertados para se postarem novamente frente à sua tarefa essencial, que é a de transformar e reverenciar a vida e o mundo no qual vivem.

As manifestações do Primeiro de Maio, aqui retratadas, têm caminhado nesse sentido, ao convocarem a juventude e os artistas, com a disposição de poetas e atores de teatro em irem para as ruas ao encontro dos trabalhadores em marchas a céu aberto pelas ruas.Aliás, a propósito dessa necessidade de se aproximar novamente artistas e trabalhadores, arte e vida, vale conhecer um texto de Augusto Boal, também publicado neste mês, como discreta lembrança pelo advento de sua morte.

Roberto Soares Coelho

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