Em relação à causa da gripe suína, claro que não existem indícios sérios de que se trata de um vírus criado, ou pelo menos modificado, em laboratório. Ms lendo os textos da matéria Sobre a gripe suína, e vendo aquelas imagens de pessoas assustadas, mascaradas, e principalmente vigiadas e controladas, não há como não nos lembrarmos de certas projeções pessimistas para o futuro. É como se a gripe suína fosse um ensaio para uma futura pandemia de proporções catastróficas.
Dá o que pensar: seria apenas paranóia, ou adesão simplista à teoria da conspiração, imaginar que, um dia, esses mesmos poderes corporativos, citados na matéria e juntamente com outros poderes de Estado, irão patrocinar a (ou colaborar na) disseminação intencional de algum vírus ou microorganismo letal, com o objetivo consciente de eliminar seres humanos, em grande escala?
Infelizmente, colocar tal questão já não é apenas paranóia ou futurismo mórbido. Infelizmente, sabemos que a lógica, que governa as decisões e as ações dos detentores do poder econômico e de Estado, não é a lógica da racionalidade, ou pelo menos de uma racionalidade humanizada, e humanizadora.
E sabemos também que não se pode falar em ética quando nos referimos às pessoas que detêm esses poderes. Afinal, se elas são colocadas - ou se se colocam - à frente desses poderes é exatamente para governarem e decidirem sob as regras dessa lógica desumanizada e, assim, o que se deve e se pode esperar dessas pessoas é que elas mantenham, conservem e até mesmo ampliem as estruturas de poder que dão sustentação à lógica produtivista, predadora e consumista.
Ou seja, se estamos a falar de uma lógica de sistema, que por si só é fria, impessoal, como exigir, como falar de ética, de razão humanizadora, ao refletir sobre as atitudes daqueles que estão no poder? A única ética possível é a ética deles, a ética feita de vitória a qualquer preço, de competição. Eles somente praticar tal ética, pois não aprenderam outra, e nem a engrenagem, a lógica de sistema lhes permite outra ética, outra racionalidade, outra lógica.
E não vale acreditar ou defender que, passo a passo com a evolução tecnológica e administrativa do capitalismo, estaria havendo um aperfeiçoamento moral - ou uma diminuição da desumanização - de seus comandantes e detentores do poder. Pura ilusão. Sistemas não se aperfeiçoam em termos morais e de consciência e, portanto, seus chefes e prepostos não têm essa liberdade de escolha e evolução. Ao contrário, no seu papel de comandantes privilegiados da lógica produtiva/predadora, estão condenados a ir cada vez mais longe, estão condenados a se desumanizarem cada vez mais, em termos morais e de sensibilidade.
Assim, não há nada de amoral ou monstruoso (do ponto de vista deles, claro) no fato de se verem obrigados a tudo fazer para manterem, fortalecerem, aperfeiçoarem as condições econômicas e políticas, jurídicas e sociais que sustentam a lógica do sistema atual de produção. Sempre encontrarão uma justificativa sofisticada, elevada e inquestionável (do ponto de vista da lógica à qual servem, claro).
E, neste ‘tudo fazer’, com certeza um dia poderá se incluir aquela possibilidade mórbida da qual falamos no início deste texto. Sim, os comandantes capitalistas podem se ver obrigados um a ter que lançar mão de vírus e bactérias criados em laboratórios: controle de população, especulação financeira, instauração de um clima de medo na população, aí se incluindo guerras biológicas, supostamente inevitáveis etc etc etc. Situações e motivação não faltarão, não vale a pena ficar fazendo exercício de futurologia pessimista e inócua, e nem é de forma alguma o propósito deste texto.
O propósito aqui é o de - vivenciando a instauração desse clima de medo provocado pelo súbito aparecimento da gripe suína - refletir sobre a real natureza da lógica político-econômica sob a qual vivemos. O propósito é o de, lendo os textos abaixo e outros que circulam pela internet, começarmos a despertar para o tamanho e o grau da aberração à qual estamos cada vez mais nos sujeitando. A questão é unicamente a de reconhecermos, sem retoques e sem falsas esperanças, com o que e com quem estamos de fato lidando.
E, para quem acha que é paranóico ou futurismo inconseqüente refletir se empresas e governos poderão, um dia, pensar e decidir pela eliminação intencional e em grande escala de pessoas, recomenda-se a leitura de um livro da francesa Viviane Forrester,‘O horror econômico’, lançado em 1996. Lá, ainda nos inícios desse capitalismo desenfreado e delirante, a escritora francesa já alertava - numa narrativa sagaz, convincente e comovente - sobre até onde os comandantes do sistema estariam dispostos a chegar; mais interessante ainda, no livro Viviane tenta deslindar os complexos mecanismos pelos quais os comandantes justificariam, para os outros e para si próprios, a necessidade inevitável de se lançar mão do horror, sob qualquer uma de suas formas: bombas, guerras, doenças, aí se incluindo, é claro, algum tipo de vírus capaz de provocar... uma pandemia mortal de gripe.
Vale a pena conferir, e refletir com bastante atenção sobre a obra, com a vantagem do leitor já poder lançar um olhar retrospectivo, à distância, sobre o que tem acontecido nos últimos treze anos, desde que o livro foi lançado e decidir se alguns dos sinais de alerta da escritora francesa foram confirmados, ou se estão a se confirmar.
De qualquer forma, o propósito deste texto (e de resto, uma das principais propostas deste blogue) é de contribuir para entender que não podemos mais nos iludir com uma suposta e redentora autoconsciência da lógica capitalista, como se à medida que o sistema fosse afundando nas suas contradições, ele chegasse a um ponto em que atingiria o necessário e definitivo equilíbrio, benéfico para toda a humanidade, como se fosse capaz de um aprendizado moral e humanitário. Na verdade, o que nós temos percebido é exatamente o contrário, (apesar da aparente harmonia e modernidade que ilude, narcotiza a resigna a vasta maioria tanto das classes populares quanto das classes médias); assim, o que temos que entender, e assumir de uma vez por todas, é que cabe somente a nós reverter radicalmente a direção perigosa e insana para a qual a lógica do atual sistema está nos levando.
E não importa que ainda não tenhamos a fórmula, as receitas, não importa que ainda não tenhamos atraído as maiorias para as alternativas que nos são apresentadas. O que importa, num primeiro momento, é pelo menos estar alerta, lúcido, consciente da gravidade do processo pelo qual passamos. O que importa é saber o tamanho do adversário e a capacidade do seu mal, e não recuar perante esse horror em potencial. Sem medo e sem falsas esperanças.
Roberto Soares Coelho
Dá o que pensar: seria apenas paranóia, ou adesão simplista à teoria da conspiração, imaginar que, um dia, esses mesmos poderes corporativos, citados na matéria e juntamente com outros poderes de Estado, irão patrocinar a (ou colaborar na) disseminação intencional de algum vírus ou microorganismo letal, com o objetivo consciente de eliminar seres humanos, em grande escala?
Infelizmente, colocar tal questão já não é apenas paranóia ou futurismo mórbido. Infelizmente, sabemos que a lógica, que governa as decisões e as ações dos detentores do poder econômico e de Estado, não é a lógica da racionalidade, ou pelo menos de uma racionalidade humanizada, e humanizadora.
E sabemos também que não se pode falar em ética quando nos referimos às pessoas que detêm esses poderes. Afinal, se elas são colocadas - ou se se colocam - à frente desses poderes é exatamente para governarem e decidirem sob as regras dessa lógica desumanizada e, assim, o que se deve e se pode esperar dessas pessoas é que elas mantenham, conservem e até mesmo ampliem as estruturas de poder que dão sustentação à lógica produtivista, predadora e consumista.
Ou seja, se estamos a falar de uma lógica de sistema, que por si só é fria, impessoal, como exigir, como falar de ética, de razão humanizadora, ao refletir sobre as atitudes daqueles que estão no poder? A única ética possível é a ética deles, a ética feita de vitória a qualquer preço, de competição. Eles somente praticar tal ética, pois não aprenderam outra, e nem a engrenagem, a lógica de sistema lhes permite outra ética, outra racionalidade, outra lógica.
E não vale acreditar ou defender que, passo a passo com a evolução tecnológica e administrativa do capitalismo, estaria havendo um aperfeiçoamento moral - ou uma diminuição da desumanização - de seus comandantes e detentores do poder. Pura ilusão. Sistemas não se aperfeiçoam em termos morais e de consciência e, portanto, seus chefes e prepostos não têm essa liberdade de escolha e evolução. Ao contrário, no seu papel de comandantes privilegiados da lógica produtiva/predadora, estão condenados a ir cada vez mais longe, estão condenados a se desumanizarem cada vez mais, em termos morais e de sensibilidade.
Assim, não há nada de amoral ou monstruoso (do ponto de vista deles, claro) no fato de se verem obrigados a tudo fazer para manterem, fortalecerem, aperfeiçoarem as condições econômicas e políticas, jurídicas e sociais que sustentam a lógica do sistema atual de produção. Sempre encontrarão uma justificativa sofisticada, elevada e inquestionável (do ponto de vista da lógica à qual servem, claro).
E, neste ‘tudo fazer’, com certeza um dia poderá se incluir aquela possibilidade mórbida da qual falamos no início deste texto. Sim, os comandantes capitalistas podem se ver obrigados um a ter que lançar mão de vírus e bactérias criados em laboratórios: controle de população, especulação financeira, instauração de um clima de medo na população, aí se incluindo guerras biológicas, supostamente inevitáveis etc etc etc. Situações e motivação não faltarão, não vale a pena ficar fazendo exercício de futurologia pessimista e inócua, e nem é de forma alguma o propósito deste texto.
O propósito aqui é o de - vivenciando a instauração desse clima de medo provocado pelo súbito aparecimento da gripe suína - refletir sobre a real natureza da lógica político-econômica sob a qual vivemos. O propósito é o de, lendo os textos abaixo e outros que circulam pela internet, começarmos a despertar para o tamanho e o grau da aberração à qual estamos cada vez mais nos sujeitando. A questão é unicamente a de reconhecermos, sem retoques e sem falsas esperanças, com o que e com quem estamos de fato lidando.
E, para quem acha que é paranóico ou futurismo inconseqüente refletir se empresas e governos poderão, um dia, pensar e decidir pela eliminação intencional e em grande escala de pessoas, recomenda-se a leitura de um livro da francesa Viviane Forrester,‘O horror econômico’, lançado em 1996. Lá, ainda nos inícios desse capitalismo desenfreado e delirante, a escritora francesa já alertava - numa narrativa sagaz, convincente e comovente - sobre até onde os comandantes do sistema estariam dispostos a chegar; mais interessante ainda, no livro Viviane tenta deslindar os complexos mecanismos pelos quais os comandantes justificariam, para os outros e para si próprios, a necessidade inevitável de se lançar mão do horror, sob qualquer uma de suas formas: bombas, guerras, doenças, aí se incluindo, é claro, algum tipo de vírus capaz de provocar... uma pandemia mortal de gripe.
Vale a pena conferir, e refletir com bastante atenção sobre a obra, com a vantagem do leitor já poder lançar um olhar retrospectivo, à distância, sobre o que tem acontecido nos últimos treze anos, desde que o livro foi lançado e decidir se alguns dos sinais de alerta da escritora francesa foram confirmados, ou se estão a se confirmar.
De qualquer forma, o propósito deste texto (e de resto, uma das principais propostas deste blogue) é de contribuir para entender que não podemos mais nos iludir com uma suposta e redentora autoconsciência da lógica capitalista, como se à medida que o sistema fosse afundando nas suas contradições, ele chegasse a um ponto em que atingiria o necessário e definitivo equilíbrio, benéfico para toda a humanidade, como se fosse capaz de um aprendizado moral e humanitário. Na verdade, o que nós temos percebido é exatamente o contrário, (apesar da aparente harmonia e modernidade que ilude, narcotiza a resigna a vasta maioria tanto das classes populares quanto das classes médias); assim, o que temos que entender, e assumir de uma vez por todas, é que cabe somente a nós reverter radicalmente a direção perigosa e insana para a qual a lógica do atual sistema está nos levando.
E não importa que ainda não tenhamos a fórmula, as receitas, não importa que ainda não tenhamos atraído as maiorias para as alternativas que nos são apresentadas. O que importa, num primeiro momento, é pelo menos estar alerta, lúcido, consciente da gravidade do processo pelo qual passamos. O que importa é saber o tamanho do adversário e a capacidade do seu mal, e não recuar perante esse horror em potencial. Sem medo e sem falsas esperanças.
Roberto Soares Coelho
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