A edição dos poemas de maio já estava praticamenete encerrada, preparava-me para colocá-la no ar, quando veio-me o texto abaixo, como um verdadeiro maná de verbo libertário a se despejar de céus cibernéticos e incendiários. É desses textos que dispensam apresentação ou complementos.
Sua força e lucidez falam por si. Apenas a registrar a extrema agilidade com que o autor pula de tema em tema, de imagem em imagem, amarrando-os numa fala mesclada de sensibilidade, contundência e convocatória desafiante, a desfilar ante nossos olhos e imaginação as realidades assépticas e plastificadas que passeiam pelos shoppings nossos de cada dia.
A esse respeito, que o texto seja lido junto com os poemas de Vicente Filho, logo acima, e com o texto explosões do verbo e da cidade - o pensamento e a arte juntos no incansável combate.
Sua força e lucidez falam por si. Apenas a registrar a extrema agilidade com que o autor pula de tema em tema, de imagem em imagem, amarrando-os numa fala mesclada de sensibilidade, contundência e convocatória desafiante, a desfilar ante nossos olhos e imaginação as realidades assépticas e plastificadas que passeiam pelos shoppings nossos de cada dia.
A esse respeito, que o texto seja lido junto com os poemas de Vicente Filho, logo acima, e com o texto explosões do verbo e da cidade - o pensamento e a arte juntos no incansável combate.
Amamos muito que ainda existam falas assim.
Amamos muito tudo isso!
Dos grandes templos às humildes vendas.
Amamos muito tudo isso.
Amamos.
No luxo extremo vemos as Grand Magazines.
Locais esmerados onde prevalece o topo da cadeia alimentar do consumo.
Os Shoppings Zonas sul, onde são todos loiros, até as garçonetes, até os seguranças, inclusive as moças que cuidam da faxina. É o sonho nórdico, as indiscretas atualizações da ideologia nazista. É para lá que os burgueses afluem, levando suas companhias, naqueles templos do efêmero, onde salários mínimos são gastos em intervalos de minutos.
As belas vendedoras, que atendem tão educadamente os barões e as baronesas do capital, sempre sorriem. Mas no fundo daquela gentileza há um ódio infinito e secreto, silencioso.
Amamos muito tudo isso.
Há alguns requisitados restaurantes Class A, cujos atendentes ficam às portas do estabelecimento em dias de chuva, portam guarda-chuvas para assegurar que os clientes (Deuses) não se molhem. Os garçons se encharcam, mas preservam a integridade dos consumidores. Um nobre francês do século XVIII sentir-se-ia em casa nesse lugar.
Amamos muito tudo isso.
Nos shoppings populares as pessoas se esmagam na busca sísifa pelo nada e pelo nenhum. O novo aparelho de celular é comprado, consolo momentâneo para a baixa renda, que busca no mercado pirata a consumação do seu sonho consumista. Meses depois estará novamente insatisfeito. O aquecimento da economia agradece.
Amamos muito tudo isso.
O capitalismo é bom. Inerente ao homem. O ser humano tem predisposição para a atividade comercial direcionada ao lucro. Essa teologia tinha seu charme no setecentismo, trajando vestes iluministas e prometendo a emancipação perante o intervencionismo absurdo das grandes cadeias de poder. Seus prosélitos agiram de boa fé, divulgaram aos quatro cantos do mundo as benesses do capitalismo.
Diziam pacientemente para os nômades africanos, e em voz até infantilizada, que livre comércio era o único caminho para a felicidade. Convenceram os chineses de que a única sacralidade digna de nota seria a libra esterlina. Abordaram os aborígines da Oceania e discorreram sobre a relevância existencial do ato de comprar e vender.
Divulgaram o evangelho do lucro e prometeram a felicidade. Nada sabiam sobre a destruição do bioma, a extrema exploração dos menos válidos e da crise existencial inerente ao ato insano do consumismo.
Agiram de boa fé, ainda que com uma malícia experimental. Séculos mais tardes, desacreditados por catequizadores bem mais engajados e articulados (homens barbudos, sisudos, com lenços e polainas vermelhos), acabaram por se tornar menos elegantes em suas argumentações. Alteraram o discurso, não se tratava mais de uma busca pela felicidade, mas sim de uma imperiosidade da história, uma tecnicidade, entregar-se ao capital não era uma escolha, mas uma obrigação.
A romântica inocência dos adeptos da Escola Clássica deu lugar ao sarcasmo amargo dos neoliberais. Alguns descobriram a futilidade de se dialogar com os mineiros, tornou-se mais viável ignorar seus lamentos.
Por algumas décadas eles reinaram, e a cada gemido do mundo arrotavam. As cifras estavam a seu favor. Porém, o tempo das vacas magras chegou, alguns mortos acordaram, fantasmas ameaçadores passaram a visitar os sonhos dos que nunca choram.
Os neoliberais se ajoelharam perante o panteão e imploraram pela intervenção: “Ex Machina, ajude-nos”. Foi um lampejo, mas o suficiente para que perdessem a compostura. Sentiram-se envergonhados, tal qual o apaixonado que por um rompante romântico declara o amor para uma indiferente dama.
Constrangimento. “Tudo segue como antes”, disseram, “o mercado é nosso guia, confiem nele, ele nos guiará à felicidade”. O mundo olhou com um ar incrédulo e reprovador. Ficou evidente a covardia e a inépcia desses pastores, desses condutores de almas. Mais do que nunca estão solitários. O ódio de muitos se volta contra eles. Há um olhar homicida dos pobres, do primeiro e terceiro mundo. Os enganados, os despejados, os famintos, os que fedem a mijo, eles querem acertar as contas, querem tudo que foi prometido. Alguém disse carnificina? O Alto Clero do capitalismo está aterrorizado.
Amamos muito tudo isso.
Dos grandes templos às humildes vendas.
Amamos muito tudo isso.
Amamos.
No luxo extremo vemos as Grand Magazines.
Locais esmerados onde prevalece o topo da cadeia alimentar do consumo.
Os Shoppings Zonas sul, onde são todos loiros, até as garçonetes, até os seguranças, inclusive as moças que cuidam da faxina. É o sonho nórdico, as indiscretas atualizações da ideologia nazista. É para lá que os burgueses afluem, levando suas companhias, naqueles templos do efêmero, onde salários mínimos são gastos em intervalos de minutos.
As belas vendedoras, que atendem tão educadamente os barões e as baronesas do capital, sempre sorriem. Mas no fundo daquela gentileza há um ódio infinito e secreto, silencioso.
Amamos muito tudo isso.
Há alguns requisitados restaurantes Class A, cujos atendentes ficam às portas do estabelecimento em dias de chuva, portam guarda-chuvas para assegurar que os clientes (Deuses) não se molhem. Os garçons se encharcam, mas preservam a integridade dos consumidores. Um nobre francês do século XVIII sentir-se-ia em casa nesse lugar.
Amamos muito tudo isso.
Nos shoppings populares as pessoas se esmagam na busca sísifa pelo nada e pelo nenhum. O novo aparelho de celular é comprado, consolo momentâneo para a baixa renda, que busca no mercado pirata a consumação do seu sonho consumista. Meses depois estará novamente insatisfeito. O aquecimento da economia agradece.
Amamos muito tudo isso.
O capitalismo é bom. Inerente ao homem. O ser humano tem predisposição para a atividade comercial direcionada ao lucro. Essa teologia tinha seu charme no setecentismo, trajando vestes iluministas e prometendo a emancipação perante o intervencionismo absurdo das grandes cadeias de poder. Seus prosélitos agiram de boa fé, divulgaram aos quatro cantos do mundo as benesses do capitalismo.
Diziam pacientemente para os nômades africanos, e em voz até infantilizada, que livre comércio era o único caminho para a felicidade. Convenceram os chineses de que a única sacralidade digna de nota seria a libra esterlina. Abordaram os aborígines da Oceania e discorreram sobre a relevância existencial do ato de comprar e vender.
Divulgaram o evangelho do lucro e prometeram a felicidade. Nada sabiam sobre a destruição do bioma, a extrema exploração dos menos válidos e da crise existencial inerente ao ato insano do consumismo.
Agiram de boa fé, ainda que com uma malícia experimental. Séculos mais tardes, desacreditados por catequizadores bem mais engajados e articulados (homens barbudos, sisudos, com lenços e polainas vermelhos), acabaram por se tornar menos elegantes em suas argumentações. Alteraram o discurso, não se tratava mais de uma busca pela felicidade, mas sim de uma imperiosidade da história, uma tecnicidade, entregar-se ao capital não era uma escolha, mas uma obrigação.
A romântica inocência dos adeptos da Escola Clássica deu lugar ao sarcasmo amargo dos neoliberais. Alguns descobriram a futilidade de se dialogar com os mineiros, tornou-se mais viável ignorar seus lamentos.
Por algumas décadas eles reinaram, e a cada gemido do mundo arrotavam. As cifras estavam a seu favor. Porém, o tempo das vacas magras chegou, alguns mortos acordaram, fantasmas ameaçadores passaram a visitar os sonhos dos que nunca choram.
Os neoliberais se ajoelharam perante o panteão e imploraram pela intervenção: “Ex Machina, ajude-nos”. Foi um lampejo, mas o suficiente para que perdessem a compostura. Sentiram-se envergonhados, tal qual o apaixonado que por um rompante romântico declara o amor para uma indiferente dama.
Constrangimento. “Tudo segue como antes”, disseram, “o mercado é nosso guia, confiem nele, ele nos guiará à felicidade”. O mundo olhou com um ar incrédulo e reprovador. Ficou evidente a covardia e a inépcia desses pastores, desses condutores de almas. Mais do que nunca estão solitários. O ódio de muitos se volta contra eles. Há um olhar homicida dos pobres, do primeiro e terceiro mundo. Os enganados, os despejados, os famintos, os que fedem a mijo, eles querem acertar as contas, querem tudo que foi prometido. Alguém disse carnificina? O Alto Clero do capitalismo está aterrorizado.
Amamos muito tudo isso.
Postado por Davidson, no Blog do C.I.S.C.O Textos relacionados: ‘ocupar as ruas, manter a chama’, ‘paisagem urbana, humana (I) e ‘explosões do verbo e da cidade'
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