Depois de mim, este miserável
quarto de pensão, quantos não abrigará?
os olhos se arrastam pelas coisas
como os de quem, no limiar da morte
olha pela última vez o mundo de que se desgarra
Os parcos móveis não me explicam
Esses cubos de concreto que compõem a cidade
não me explicam
a lua, distante e neutra, as estrelas
omissas em sua intangibilidade
não me explicam
Mas porque dessa coisa indefinida
e indócil e fechada que sou
vem esta vaga esperança
de me explicar a mim
não me suicido
por hoje
waldo motta (o signo na pele, 1981)
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