21/05/2009

um pouco de mares e silêncios

Em meio a tantas explosões do verbo e da cidade, um pouco de trégua, a suave mas funda fala de Mariana Botelho, em dois poemas. Afinal, a tarefa do poeta não é apenas a de denunciar o feio, o ruim e e o velho. Há que continuar celebrando a vida e o mundo mesmo em meio às explosões e à barbarie, e também há que manter acesa a vivência e a memória de outros mundos, dos vastos e vibrantes oceanos que estarão abertos a todos e todas - independente de serem ou não chamados de poetas e artistas - após as duras batalhas contra as estruturas que sustentam essa lógica obsoleta e perigosa, que governa nosso mundo e nossas vidas.
Enfim, a poesia se faz presente em todos os cantos: naqueles que denunciam e explodem e naqueles que celebram, que exploram e preparam os ricos solos e os vastos mares de cada um e de todos nós; embrando, claro, que esses diferentes cantos às vezes se irradiam de um mesmo poeta. Aliás, é preciso registrar que nenhum dos poetas, comentados no texto explosões do verbo e da cidade, restringe a sua fala a apenas cantos engajados ou indignados com a miséria física e espiritual, imposta aos homens e mulheres pela lógica do atual modelo de civilização.

coisa que me ocorreu de repente

a poesia se derrete nas mãos do poeta
como gato que ele afaga

a poesia queima nas mãos do poeta
como um fogo que ele alimenta

a poesia afoga as mãos do poeta
é um copo do oceano que ele mesmo inventa

o poeta é um mar de si mesmo
mariana botelho (blogue suave coisa)

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