quero chamas a consumir
os cataventos se foram
e meu rosto desaba no espelho
quero uma aliança com o eterno
que se renove na imensidão
da morte
e quando o equinócio chegar
quero estar no seu zênite
como um deserto que reflete
como um deserto que não termina
e se dana
na própria infinitude
quero-te e não te quero
aos demônios ouço
e te persigo
e me arrebato em tua poesia
inefável
retenho a vida, forte e insubmisso
tramas a minha morte
sou anjo de pedra
pedra ou sonho?
vida ou torpor?
sou-te e não me abrigo
tens a mim e não me possuis
amo-te e não entendo
a razão deste amor
carlos ernesto
(cartas ao mar fechado, edição do autor, 1979)
*************
Mas, interrompendo a vívida celebração de Vicente e Rilke, com o poema de Carlos Ernesto brota já uma primeira dissidência, um primeiro desafio à onipotência da divindade. Há na verdade uma como que rebelião da razão contra o mistério, do finito contra o infinito.
É como um grito que misturasse raiva e impotência, fascínio e lamento, pelo fato de a razão do poeta-filósofo não conseguir captar em sua inteireza o mistério do ser, e principalmente não conseguir se apreender no meio da rica ambigüidade humana, que é ser ao mesmo tempo fruto e alimento do Espírito.
É um magnífico e rico desfile de imagens a ilustrar a ambígua condição de alguns poetas do ocidente, a condição de ateus arrependidos e nostálgicos. Como se o Ser, o Mistério, não desse ao poeta ocidental outra opção que não um ateísmo, a partir do momento em que não se nos revela de forma clara, racional, a partir do momento em Deus não se nos manifesta de forma inequívoca, com sinais claros no céu da nossa vida e da nossa História.
A condição de ateu arrependido provém então, dessa incapacidade de poetas e filósofos do Ocidente em apreenderem o Mistério e o Sagrado através da simples intuição - ou daquilo que os religiosos chamam de fé – exigindo que esse Sagrado, que essa Fonte se manifeste de forma racional, ou pelo menos de forma mais direta, que jogue de igual para igual com o homem, e não do alto de sua obscura, intangível e arrogante realidade.
E ao mesmo tempo há uma certa nostalgia nesse ateísmo, uma saudade de um obscuro tempo de inocência, provavelmente na infância, quando tudo é magia, comunhão, celebração do mundo e do Mistério.(cartas ao mar fechado, edição do autor, 1979)
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Mas, interrompendo a vívida celebração de Vicente e Rilke, com o poema de Carlos Ernesto brota já uma primeira dissidência, um primeiro desafio à onipotência da divindade. Há na verdade uma como que rebelião da razão contra o mistério, do finito contra o infinito.
É como um grito que misturasse raiva e impotência, fascínio e lamento, pelo fato de a razão do poeta-filósofo não conseguir captar em sua inteireza o mistério do ser, e principalmente não conseguir se apreender no meio da rica ambigüidade humana, que é ser ao mesmo tempo fruto e alimento do Espírito.
É um magnífico e rico desfile de imagens a ilustrar a ambígua condição de alguns poetas do ocidente, a condição de ateus arrependidos e nostálgicos. Como se o Ser, o Mistério, não desse ao poeta ocidental outra opção que não um ateísmo, a partir do momento em que não se nos revela de forma clara, racional, a partir do momento em Deus não se nos manifesta de forma inequívoca, com sinais claros no céu da nossa vida e da nossa História.
A condição de ateu arrependido provém então, dessa incapacidade de poetas e filósofos do Ocidente em apreenderem o Mistério e o Sagrado através da simples intuição - ou daquilo que os religiosos chamam de fé – exigindo que esse Sagrado, que essa Fonte se manifeste de forma racional, ou pelo menos de forma mais direta, que jogue de igual para igual com o homem, e não do alto de sua obscura, intangível e arrogante realidade.
No fim do poema, um interessante e denso jogo entre rendição e resistência, entre comunhão e distanciamento, esse jogo de presença e fuga com que o Ser se apresenta àqueles que procuram inutilmente capturá-lo, desvelá-lo em toda sua inteireza, ou por outra, esse jogo com que Deus se apresenta àqueles que buscam vê-lo de perto, Face a Face
...e um poema para a Deusa?
ResponderExcluirBerto, eis o poema que você pede:
ResponderExcluirhttp://rscoelho.blogspot.com/2010/04/o-ultimo-sortilegio.html