tu, escuridão da qual descendo
de ti gosto mais que da labareda:
ela reduz
o mundo em que reluz
a uma espécie de círculo
fora do qual nenhum ser a conhece.
já a escuridão, em si tudo contém:
formas e flamas e animais, e eu
- assim como também ela reúne
pessoas e potências...
e pode ser isto: uma grande força
a se mover nos subúrbios de mim...
acredito nas noites.
rainer rilke
(livro de horas, ed. civilização brasileira, 1994)
***********************
Poderíamos adequadamente encerrar com este poema de Clarice, e com essa identificação entre Palavra e Infinito, entre Verbo e Mistério, poema e oração.
Mas deixemos que Rilke feche este cortejo de poemas para Deus, de Deus, contra Deus.
O seu poema é um sereno, mas não menos profundo, cântico ao obscuro, ao inominado, ao informe, ao nada, às trevas.
Pareceria uma contradição fechar com um cântico ao nada, se até aqui viemos falando de Luz, Olhar, Forma, Ser, Presença.
Mas este poema de Rilke faz lembrar que o Ser somente se sustenta em relação ao Nada, em combate ao Não-Ser: o Universo se expande rumo ao intocado, o Cosmos cresce exatamente ocupando o Vácuo, ou por outra, a Criação, que ainda geme as dores do parto, só pode se parir em meio ao Grande Útero do Vazio. Tudo o que o Mistério foi, é e vier a ser somente pode se dar num cenário cercado de Nada, de Obscuro.
São então duas faces da mesma realidade: de um lado a ameaça do Nada a rondar e espreitar o Ser, o Cosmos; de outro, uma espécie de comunhão entre o Ser e Nada, entre Criação e Vazio, ente Cosmos e Escuridão: a Criação precisa do Vazio para parir, o Cosmos precisa da Escuridão para se intumescer, o Nada atrai o Ser para que este o preencha.
Mas deixando de lado a metafísica: o poema de Rilke é uma celebração àquilo que ainda não é mas que será penetrado pelo Ser, e ao mesmo àquilo que oferece ao Ser a possibilidade de vir a ser, de se fazer Presença e Mistério.
Mas deixemos que Rilke feche este cortejo de poemas para Deus, de Deus, contra Deus.
O seu poema é um sereno, mas não menos profundo, cântico ao obscuro, ao inominado, ao informe, ao nada, às trevas.
Pareceria uma contradição fechar com um cântico ao nada, se até aqui viemos falando de Luz, Olhar, Forma, Ser, Presença.
Mas este poema de Rilke faz lembrar que o Ser somente se sustenta em relação ao Nada, em combate ao Não-Ser: o Universo se expande rumo ao intocado, o Cosmos cresce exatamente ocupando o Vácuo, ou por outra, a Criação, que ainda geme as dores do parto, só pode se parir em meio ao Grande Útero do Vazio. Tudo o que o Mistério foi, é e vier a ser somente pode se dar num cenário cercado de Nada, de Obscuro.
São então duas faces da mesma realidade: de um lado a ameaça do Nada a rondar e espreitar o Ser, o Cosmos; de outro, uma espécie de comunhão entre o Ser e Nada, entre Criação e Vazio, ente Cosmos e Escuridão: a Criação precisa do Vazio para parir, o Cosmos precisa da Escuridão para se intumescer, o Nada atrai o Ser para que este o preencha.
Mas deixando de lado a metafísica: o poema de Rilke é uma celebração àquilo que ainda não é mas que será penetrado pelo Ser, e ao mesmo àquilo que oferece ao Ser a possibilidade de vir a ser, de se fazer Presença e Mistério.
E o poema de Rilke, como de resto qualquer poema, não deixa de ser ele próprio um vir a ser, uma nova presença no informe, no nada daquilo que ainda não era, uma nova manifestação do Infinito através de seu finito sentinela no mundo, o homem. E Rilke, ao dar vazão ao seu testemunho, serenamente celebra e ‘acredita’ nesta vasta ‘noite’ que chamamos de Infinito e Finito, Ser e Nada, Cosmos e Vazio, Vida e Morte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário