Claro que não se pode esquecer que o fausto e a beleza, a imponência e a solidez das igrejas católicas obedeciam a motivações que iam muito além do simples deleite artístico, estético e da vivência espiritual. Eram também uma manifestação de poder e de dominação e sedução das classes populares.
Além do que, muito dessa pompa e imponência foi construída às custas do sofrimento, do trabalho extremo de escravos e despossuídos da época, como costuma acontecer na construção dos grandes monumentos erigidos ao longo da atribulada história.
Mas nada disso pode invalidar exatamente o reconhecimento da imponência e da criatividade, da beleza e harmonia presentes nas igrejas católicas. Mais, tão importante quanto valorizar ou reconhecer a sua riqueza arquitetônica e artística, importa aprender o seu símbolo de transcendência, de instância que possibilita, sugere ou reflete a fusão do homem com o divino, do finito com infinito.
A propósito, não custa lembrar a já bastante conhecida etimologia da palavra religião = religare, ligar novamente. juntar terra e céu, profano e sagrado. Igrejas são, então, momentos onde se cristalizam essas tentativas de reencontro, de religação do homem com o universo, do finito com o Infinito.
E já que o assunto dos poemas deste mês é a relação do homem com o sagrado, o transcendente, e já que estamos em meio à celebração da Semana Santa pelos católicos, nada mais apropriado do que publicar algumas fotografias de igrejas.
Além disso, se as escolhidas são as igrejas católicas é porque, pelo menos no Brasil, são elas que representam abundantemente esses momentos de celebração do sagrado, são elas que juntam beleza e imponência, religiosidade e história.
Enfim, são, tal como os poemas publicados neste mês, belos momentos de celebração, criativas e poéticas manifestações do próprio Espírito – sentido que o filósofo Hegel dá a essa palavra, com todas as suas contradições históricas e ‘dores do parto’, tal como também está lembrado nos comentários acerca dos poemas deste mês.
(ouro preto, minas)
Essa singela e curiosa igrejinha de Paraguai, Zona da Mata de Minas, reflete bem a dupla tarefa das arquiteturas católicas. Aí não se percebe nenhum fausto ou luxo. Mas presente a mesma imponência, tornada ainda ostensiva se contrastada com a simplicidade das casas do vilarejo. Como se, ao mesmo tempo em que fosse uma reconfortadora e reverente memória da presença do Mistério (repare-se na modesta morada dos mortos, plantada em pleno pasto, guardada pela árvore e pela igreja), o templo católico agisse também como uma espécie de vigilância social, política e ideológica em relação aos moradores.
antigo seminário do Caraça, minas
antigo seminário do Caraça, minas
aqui, o mesmo bucolismo de Paraguai e da última igreja de Ouro Preto. No Caraça, a junção da religiosidade com a cultura. Pelo Colégio do Caraça passaram nomes de destaque da arte e da literatura mineiras, e representantes da oligarquia política do estado. O Caraça na wikipédia
fotografias: roberto soares
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